quarta-feira, agosto 17, 2005

Não se apaixone por seus personagens

sim, os finais aliviam. são melhores do que o texto sem rumo, o fio da meada perdido, o autor que insiste na história já sem chão. mas machucam. não gosto de terminar livros. anyway: economizar as páginas derradeiras só traz frustração, porque o final nunca é o melhor. o apogeu não está no final, e sim no meio. o problema é que, depois dele, os laços se perdem, só grandes autores conseguem superar o próprio clímax e seguir num bom ritmo até o último suspiro de sua história. histórias nascem e morrem, e quanto menos ficarem no limbo, melhor.
eu tenho esse péssimo defeito de gostar demais de histórias. tem gente que reclama de ter assistido televisão demais na infância; eu li demais, e garanto: é pior. porque a tv não dá tanto espaço pra imaginação. no livro, você tem que imaginar personagens, cenas, lugares – na tv está tudo lá. a televisão é bem mais complexa, tem uma aura de magia que não nos permite imaginar que poderíamos inventar tudo aquilo também. livro, não: livro é fácil, qualquer um pode escrever, basta ter imaginação. e acabei tendo imaginação demais. e me apegando demais às histórias que invento. não gosto quando tenho de terminá-las, mas os bons autores têm de saber o momento de parar. não sou uma boa autora, por isso minhas histórias acabam só quando não dependo mais delas, ou quando elas não dependem mais de mim. ou quando acontece um final surpreendente e trágico, mas que já se anunciara desde o princípio – aquele que o leitor atento teria desconfiado.
não fui leitora atenta de mim mesma. a história estava pronta, o final anunciado, e eu mesmo não vi. dizem que há autores que se submetem aos seus personagens, perdendo o controle da própria história. foi o que aconteceu comigo. me apeguei tanto aos meus personagens que esqueci quem eles realmente eram. perdi a essência deles, e a história tomou o rumo que tomou. culpa desta que vos escreve. pelo menos chegamos ao fim. com um ponto final bem dado, e se fosse um filme nacional tocaria tim maia enquanto subiriam os créditos.

o problema é que sou uma leitora-obssessiva: incontrolável mania de reler livros. já vi em algum lugar que isso é uma forma obstinada de burrice. dessa vez, não.