quinta-feira, agosto 18, 2005

coitado é filho de rato, que nasce pelado

fui cúmplice de um assassinato hoje. testemunha ocular de um sequestro. a vítima foi perseguida durante horas, fugia desesperada, e um exército de mais de dez homens a perseguia implacavelmente. eles a encurralaram, prenderam e levaram para um local deserto para consumar o assassinato. prepararam meticulosamente o local da execução para evitar que o sangue da vítima deixasse quaisquer vestígios. não assisti à execução; dizem que foi rápida e violenta.

morta com uma paulada certeira na cabeça, a vítima não foi identificada. não possuía documentos nem qualquer pista sobre sua origem. foi jogada em vala comum. não houve lágrimas. tudo que sabemos é que ela era um rato. Um rato cinza que morava aqui na redação há algum tempo. hoje este elemento viu o sol pela última vez. e logo em seguida tomou uma vassourada no crânio. eficiente e fria.
fiquei pensando nos ratos dessa vida. é estranho matar um bicho grande como um rato. é um mamífero, porra. esquisito. sai sangue, tem osso, é diferente de matar uma barata ou qualquer outro inseto. é mais pra matar um gato. tivemos aqui uma breve discussão sobre a legitimidade do assassinato. alguns defendiam a extradição do bicho, apenas: "deixa ele ir embora e pronto". eu, pragmática, incentivei a execução, é praga, traz doença. mas é realmente esquisito matar um mamífero. próximo demais da gente, será?
dali a pouco, vejo a manchete na home do uol: mãe mata filhos e come os cérebros. barbárie? o que pensar? o ser humano é muito doido, meu. a gente não sabe nada sobre nós mesmos. era a mesma coisa que eu estava pensando enquanto quase todos os homens da redação corriam atrás do rato, e quase todas as mulheres assistiam de pé, em cima das cadeiras. uma editora inteira parou por causa de um bichinho de uns 20 cm. ninguém trabalhou até o episódio do rato acabar. e por que? coisa doida, né? a gente tão grande, inteligente, senhor da natureza e tal, e um mísero rato muda nossas vidas, e ninguém sabe explicar porquê. do mesmo jeito que ninguém sabe explicar porque uma pessoa fez o que essa mulher fez. (estou excluindo as explicações que não explicam nada, naturalmente. falar "ah, é louca", "é fanática", "é encosto", não explica nada).
não recomendo que ninguém leia a notícia, por isso nem botei o link. além de ser absolutamente "disgusting", não vai adiantar nada. continuaremos a não entender porra nenhuma do enigma do ser humano. "o homem, este desconhecido"... é isso aí. sabemos um monte de coisas sobre um monte de coisas, mas nada de nós mesmos.
e diga-se de passagem que eu não entendo nada do enigma do homem enquanto sexo masculino. cada história doida que tenho escutado, presenciado e (snif, snif...) vivido... eu, hein, rosa! até que foi emblemático o aparecimento desse rato bem hoje...