quinta-feira, janeiro 19, 2006

o que passa na cabeça de uma mulher

os homens costumam dizer que não entendem o que se passa na cabeça de uma mulher. como sou uma pessoa bondosa, coloco em prática uma idéia que tive ontem: segue abaixo um exemplo detalhado dos pensamentos de uma mulher.



saiu de casa sem se arrumar muito - estou tão gorda que nem adianta, vai essa blusinha preta decotada com sutiã bão que pelo menos parece que tenho peitões, se é pra ter carne demais que pelo menos a tenha nos lugares que prestam. e salto alto pra afinar um pouco a silhueta de barril, vou carregar na maquiagem pra compensar a falta de produção na roupa. primeira balada depois das férias, tudo meio estranho, voltar aos mesmos lugares, desejar feliz ano-novo pros conhecidos, aquela coisa de começo de ano. amigas, cerveja, samba, todos animadíssimos - que que eu vim fazer aqui, meu deus, podia estar em casa assistindo e.r., não tenho mais idade pra essas coisas, sou da roça, não quero mais sair, nem beber, nem flertar, nem nada. tudo bem, tudo bem, o samba continua, a cerveja começa a fazer um pouco de efeito, mê vê mais uma por fav... - nossa! quem é esse cara novo aí no balcão! que gatinho... ah, esse sim faz o meu tipo. não adianta eu ficar olhando pra esses muito bonitos, gostosos, de dread, na hora h perco o interesse, esse aí sim. puta, mas eu pedi a cerveja que nem uma idiota, a voz esganiçada, já queimei o filme de primeira, sou uma idiota mesmo, gorda, feia, burra!. o samba continua, olhadas pro gatinho, as conversas mais animadas, mais uma olhadinha - que lindinho! putz! ele viu eu olhando de novo. será que estou dando mole demais? será que ele está rindo da minha cara? vou mudar de lugar. -, vira pra olhar a banda e vê um cara dançando animado, camiseta branca, só um flash - ai, meu deus, é ele, o Homem! fodeu, fodeu, fodeu, será que ele viu que eu vi, vou ter que virar de novo com naturalidade, quanto mais eu demorar pra cumprimentar mais difícil fica, respira fundo, malvina, ai jesuis, ai que merda, vou derrubar a cerveja, minha mão tá mole, fodeu, fodeu - reúne toda a sua coragem e vira de frente pro inimigo - ufa! não é! será que não mesmo? não, não é... ai, graças a deus...

mais uma fofoca, dançar um pouquinho, todos comentando, nossa mas você está linda, está queimada, emagreceu - emagreci, sim! o mesmo bujão de sempre! - eis que de repente... Amigo do Homem! Tudo bem? Feliz ano novo! - ai jesuis, ele tá aí, só pode estar, ai valha-me minha virgem maria, me ajuda, me ajuda, ele tá atrás do Amigo, assim que ele der um passo pra frente vou vê-lo - Oi, Homem! Feliz ano-novo - é isso aí, ano-novo, vida nova, vou ser simpática, vamos selar a paz, pelo menos fico por cima, mostro que já passou, e quem sabe acontece uma reviravolta, ele se ajoelha a meus pés e diz "Malvina, desculpe, eu te amo, morri de saudade, vamos embora desse lugar, vamos embora desse país...". Não pira, Malvina, mantenha a calma, isso nunca vai acontecer mesmo, segura a onda, lembra do gatinho atrás do balcão. O Amigo do Homem animadíssimo, conversando, contando histórias, o Homem por perto, mais calado, às vezes faz uns comentários na conversa - meu deus, como ele tá feio! por que cortou esse cabelo? e engordou mais ainda! deve ter enchido o bucho de comida no ano-novo! e esse cabelo piora, a cara dele tá parecendo uma lua cheia, meu deus, por que eu piro nesse cara?, mulher é muito idiota mesmo - a balada vai indo, as amigas por perto, os dois por perto, não desgrudam de lá, a cerveja fazendo mais efeito, a conversa com o Homem ficando mais interessante - ele é legal apesar de tudo, queria poder conseguir ser amiga dele, mas ele insiste em falar comigo olhando pra minha boca, melhor ser durona, vou ali, não vou dar mole, juro que não vou. muda de lugar, vira de costas, dança com a amiga se divertindo mais do que nunca - pára de olhar, burra! pára de olhar pra ele! você sabe que ele vai estar olhando, zóião, aí se arrepende de ter olhado... olha aí! de novo! burra! -, o Amigo do Homem volta a puxar conversa - será que ele faz isso pra me aproximar do Homem mesmo ou é piração minha? - vamos dançar? claro, vamo aí - dançar, coisa que você não sabe, morra de inveja, morra de ciúme, estou dançando com seu amigo - se concentra pra dançar o melhor possível, o mais leve possível - tomara que ele esteja com ciúme... não olha! não olha! burra! -, a música acaba, a conversa continua, vamos fumar um beck lá em cima, vamos, vou ali e já volto. o baseado fica pronto, ele não voltou - foda-se, perdeu, vou subir e ele que se foda, é só o que me faltava ir lá chamá-lo - começa a fumar, olha pra pista, ele olha, pergunta do baseado, sobe aí. você foi feita sob medida, diz um chavequeiro-muito-útil-no-momento, o teto é baixo e a altura dela dá certinho sem bater a cabeça no teto - diferente dele, que posição ridícula, abaixa de uma vez, meio encurvado assim tá patético, seu imbecil. o baseado vai, a conversa vai - pára de olhar pra minha boca, porra, eu vou ceder, não, não vou ceder, jesuis me ajuda, me agarra de uma vez então pra não me dar tempo pra pensar, se você for homem suficiente pra me agarrar sem me deixar saída eu juro que agradeço... não, malvina! pára com isso! é óbvio que você não vai ceder. você é fodona. você não precisa de homem, principalmente desse! -, o baseado acaba, ele olha bem fundo nos olhos dela, tipo última chance - não vou facilitar, não vou facilitar, se você quisesse mesmo não ligaria pro meu cu doce... não! não é cu doce! eu não vou ficar mesmo! - ela ri, vira a cara e volta a conversar com o chavequeiro-muito-útil-no-momento. ele se irrita - como é mimado! é pior do que eu! - e desce. agora perdeu a graça ficar lá em cima, melhor descer e ir dançar - será que já deu tempo suficiente pra não ficar parecendo que eu desci atrás dele? -, faz isso, desce e dá de cara com ele, que olha estranho, zóião - ai, jesuis -, tudo bem, vamos dançar, as amigas ajudam, muita fofoca na noite, bom pra distrair do dito-cujo.

ele some para o outro lado da balada, mas ela mantém sob controle a posição dele, não o perde de vista mas se esforçando ao máximo para que ele não perceba - e claro que ele percebe. volta. conversa fiada e meio constrangida - ai, meu deus, não vou facilitar, por que ele não me agarra? por que? se ele esperar que eu dê mole pode desistir, eu não vou, eu não vou... malvina, pára! se ele te agarrar você empurra e sai correndo -, ele tenta pela última vez criar um clima favorável, dá pra sentir a energia, os raiozinhos entre os dois, ela fica com medo, puxa uma amiga pra conversa. ele suspira e diz, vou embora, vou pagar minha comanda. o coração aperta - não, não vai!. ele volta, comanda paga, olha fundo pela última vez, tchau, ela natural: tchau, até mais. ele vira as costas e vai embora. - ai que merda, ai que merda, foi embora, ai, ok, não era isso que você queria, malvina? agora se arrependeu? não, nunca! melhor assim. ele não gosta de mim, mesmo. se gostasse tinha insistido mais. tinha me agarrado. sem você colaborar, não, né malvina? eu não vou colaborar mesmo. nunca mais. a banda volta a tocar a mesma música da hora em que ele chegou, a vida foi em frente e você simplesmente não viu que ficou pra trás. - isso, malvina. lembra do gatinho atrás do balcão... ah, perdeu a graça. vou embora também.

1 Comments:

Blogger malvinas said...

Descobriram que o cara do balcão era o doente dormindo lá embaixo da outra história, hahahahaha. Ele tava zuado de gripe e... bom, tá sempre com várias meninas mas é do tipo come queto e gente boa!!!
Iuhu: viva o cara do balcão!

3:21 AM  

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