quarta-feira, agosto 24, 2005

socorro, eu não estou sentindo nada

análise é aquela coisa. às vezes útil, às vezes interessante, às vezes pura masturbação emocional. faço análise porque acho que é minha obrigação, já que tenho alguém disposto a pagar, me tornar um pouco menos desiquilibrada e, assim, mais preparada para fazer algo de bom para esse mundo e seus habitantes. tá certo, tem um lado bem egoísta e pequeno-burguês na história. ficar lá deitada falando exclusivamente de si e de seus problemas durante cinquenta minutos parece uma coisa bem egocêntrica, mas me atenho a essa questão de poder melhorar pra ser melhor pro resto do mundo e encaro. e tem umas coisas muito básicas que você aprende fazendo análise que ajudam muito.

uma delas é aprender a aceitar os momentos de depressão. curtir a fossa, em português claro. estava conversando sobre isso agora mesmo com minha prima, que é mais nova e sempre ouve meus conselhos. o namorado fez uma daquelas cachorradas bonitas com ela, enfim, a história não vem ao caso, mas eu estava falando isso: "curte a fossa, minha querida". ouve tim maia 1972 (nossa, ele devia ter sido corneado pelo amor da vida dele com o melhor amigo, eita disquinho depressivo!), fica jogada em casa chorando, tenha pena de si mesma. sofre, como aliás diz uma das músicas desse disco ("agora sofre, sofre.."). sofre. senta e chora mesmo. até acabar o estoque de lágrimas, até a dor perder a graça. até um dia você ver que não tem mais nada pra chorar.

o ruim mesmo é quando a dor não é tão óbvia. quando você não acorda chorando, mas não tem muito ânimo pra levantar. quando você não tem nem mesmo a dor pra dar sentido a sua vida. aí a análise ainda não me ensinou nenhuma saída efetiva. aquelas fases em que a cerveja fica sem gosto, o baseado não bate, e não dá nem vontade de se afundar entre lágrimas e bombons. que os textos não saem mais tão facilmente, por falta da melancolia inspiradora. que tudo fica cinza, mas não de dor: de tédio. aí é foda.