sábado, janeiro 28, 2006

Epifania

Acordei às 5h da manhã, ávida pelo mistério. Peguei o carro e só parei em frente à praça. (Um homem com duas casas deixa margem a dúvidas. Queria dormir com você. Dormir mesmo, sonhar abraçada ao seu corpo. Mas não ousei tocar o sino).
A praça me convidava, selvagem, e fui me perder nela. Entrei no caminho que me pareceu menos seguro e segui com a respiração suspensa. Como é longo e imprevisível... Só eu e os passarinhos estávamos acordados na cidade. Entre os muros das casas mal caiadas fui me diluindo e o cenário era mais estranho que bonito. Pisava sobre o chão coberto de lixo e uma pipa vermelha presa a uma árvore me fez sonhar. Ouvi um som e parei assustada. Alguém tossia entre os lençóis e eu avancei com cautela. Por aqui, por aqui, era um passarinho que dizia e eu sabia que a única opção era ir pra frente. Depois da pequena curva um gari muito laranja terminava de cagar. Que ironia, pensei, o homem da limpeza defecando no concreto cru. Dei tempo a ele para que pudesse permanecer no anonimato. O final se delineava pouco à frente e eu sentia que sairia dali mais leve. O cheiro sufocante da merda encheu minhas narinas. Segui sem pressa e atravessei o portal. A cidade se espreguiçava com cheiro de pão fresco e a banca de jornal abria suas portas. Deixei um presentinho de pétalas brancas para você e fui embora sorrindo.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Nossa o detalhe do gari...
e o cheiro nas naridas...
Demais sua interpretação...

2:32 PM  

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