sexta-feira, janeiro 27, 2006

Clariciana

Uma homenagem à homenagem:

Hoje não quero acordar. Só ontem. O homem deveria ter o direito de se matar pelo menos uma vez antes de morrer. Escrevi isso no meu diário aos dezesseis anos. Ou de desmaiar. Quando quiser. Meu analista me convenceu de que meu desejo de desmaiar era uma necessidade profunda de me destacar no meio da multidão, uma forma de compensar minha insegurança, que por sua vez advinha do fato de meu pai ter nos abandonado quando eu tinha três anos. Mas: eu não quero aparecer, quero desaparecer, eu tenho medo. Tenho medo. Quero ir embora, mas ontem descobri que a vida é sagrada. E agora? Não sei rezar e não posso mostrar meu olhar. Ele não diz nada. Ou: ele não diz mais nada. E se eu morresse agora? Não, agora não. E se eu vivesse agora? Ao todo vivi 19 vezes até hoje. A última foi ontem, quando descobri que a vida é sagrada, mas aí ela já não era mais. O sagrado se desfaz no pensamento. Não quero pensamento. Mas tenho medo do que não entendo. Isso alguém já disse antes de mim. Cair para sempre me dá medo. Para sempre me dá medo.
Mas eu preciso pular. Se não pular eu não morro. Nem vivo.

4 Comments:

Blogger malvinas said...

meu deus, meu deus, eu sempre tive vontade de desmaiar... eu sempre tenho vontade de pular. para sempre dá medo, mas é alívio também. o último alívio, a última saída é essa, e tranquiliza saber que ela existe. se não conseguir mais enfrentar as horas, resta pular.


insônia, malvina? eu também.

9:49 AM  
Anonymous Anônimo said...

gostei muito! a última frase é ótima... acho que me identifico!...

11:55 AM  
Blogger malvinas said...

Insônia brava. Dá nisso!

12:59 PM  
Anonymous Anônimo said...

Melhor pular do que ser jogado...

Quantas vezes fui jogado de lá para cá, que nem brinquedo, pelas outras pelos outros
Quantas vezes não tive vontade de sumir, e era jogado como um bicho morto é jogado num terreno baldio, junto com resto de material de construção...

Affe, jogado ao descaso, a indiferença às intrigas ao ciúme louco e maldito, quantas vezes era jogado em picuinhas, as suas crises , em seus flashbacks, a sua vontade de me beijar e não de ligar mais...

Tem horas que é melhor mesmo pular..

Pular para uma nova vida, com novas perspectivas, pular para um lugar onde você não vai estar, pelo menos até seu cheiro sair das minhas narinas da minha gola da camisa do meu pescoço..

Pular num grande rio numa cachoeira , tirar todo seu cheiro de mim, me limpar da coisa mais gostosa que aconteceu nesses tempos , purificar.....

Pular para o sagrado, pular para o confortante, ate constatar que não serei mais jogado novamente pelo teu sorriso e esse seu charme que você insiste em fazer toda vez que fico on-line..

1:34 PM  

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