quarta-feira, fevereiro 15, 2006

255Km

Atrasados de mãos dadas eles correram, mas mesmo assim chegaram atrasados. Começou a chover e na volta discutiam uma cena vivida no dia anterior. Começaram a brigar e a chuva continuou; quanto mais a chuva caia mais eles brigavam, mas não paravam de andar. Ela começou a ficar nervosa e começou a gritar e ele também. Ela começou a chorar e a andar mais rápido. Ela surta e sai correndo no meio da rua e é nesse momento que ele sacode ela pela primeira vez. Os dois estavam surtados porque o amor já era louco. Sem saber como, eles continuaram a andar vinte longos minutos num caminho cheio de ladeira, com aquela chuva grossa caindo neles, num silêncio doído. Chegaram na casa, a casa que era deles, que tinha uma porta cuja fechadura sempre dava problemas. Ela tinha muito frio e tremia enquanto ele tentava abrir o portão. Quando ele abre a porta, a cadela reconhece seus donos e começa a latir. A casa era pequena, mas tinha um jardim e uma cadela vira-lata preta com uma pata branca. Ela foi pro banho, ele fez um chá e em seguida entrou no chuveiro com ela. Transaram no banho; as lágrimas se confundiram com a água do chuveiro. Já secos e de roupa limpa, tomaram o chá e conversaram por horas. Era forte, era intenso. Juraram amor eterno e só por isso conseguiram dormir durante a noite.
Ela acordava sempre antes dele, fazia café, abria a janela e deixava o sol entrar. Abria a porta e o cachorro entrava na casa. Ela brincava com o cachorro, tomava o café na varanda com aquele sol e vendo o silêncio da rua. Não passava ninguém. Ela colocava um som, colocava um pouco de café no copo com açúcar e levava pra ele. Descobria aquele homem grande que dormia no quarto quente e começava a beijar suas costas. Ele virava pra ela. Ela dava o café. Ele tomava o café em silêncio e ela dizia que estava com saudade e ele olhava pra ela e chamava de minha mulher.... Eles faziam amor.
São essas as viagens de três horas que não fazem mais.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Tento visualizar.. tento cheirar o ambiente...tento sentir aos pelos da cadela preta...
Sentir a luz do sol que entra pela casa... o aroma do café que vai se espalhando pelos cômodos...
Apenas tento... esse escritório o ar condicionado tira toda a concentração, todo o clima e toda a magia desse texto...
Mas fica na mente a idéia de como deve ser essa casinha..espero que seja assim também...

2:40 PM  

Postar um comentário

<< Home