O menino que vem à noite
A noite cai, e ele vem, e é só à noite que eu deixo ele vir, porque é um menino e noso amor é escandaloso; e porque foi no escuro que eu deixei ele pegar, devagarinho, a minha mão nas primeiras vezes; e porque o escuro nos faz esquecer que somos como primos que com vontade se tocam longe dos outros.
O escuro retira meus preconceitos dele, e os sonhos dele sobre mim. O escuro deixa o nosso sentir e só o sentir, e é bom demais. É bom ter um segredo.
Quando estou com ele, fecho os olhos e sinto as mãos pequenas e ásperas de quem mexe nas coisas o tempo todo, de quem vive no meio das plantas e dos bichos. Sinto o cheiro de mato molhado que vem da sua boca, e o aperto forte dos braços fofos que me envolvem tão sabendo o que querem comigo.
Ouço a respiração que é de bicho, é de quem se desespera pelo momento, é de quem quer se perder ali comigo. Ouço, devagar e baixo, os gemidos sufocados pelas virtudes tão bobas que o tentar-parecer-homem obriga; e peço que gema, peço que grite, que ali é um segredo e o mundo lá fora não existe, além da chuva e das flores que ele me colocou na janela.
Quando ele vem à noite, fechamos os olhos e nos vemos melhor. Encontramos no instante a felicidade - mais que o tesão, a felicidade - de estarmos juntos, e de estarmos sós.
Quando ele vem à noite, pouco falamos; devagar e como quem sempre foge, deixo ele se enfiar em mim como bicho que sabe o caminho desde antes de nascer. E gosto, e gozo, e durmo feliz.
O escuro retira meus preconceitos dele, e os sonhos dele sobre mim. O escuro deixa o nosso sentir e só o sentir, e é bom demais. É bom ter um segredo.
Quando estou com ele, fecho os olhos e sinto as mãos pequenas e ásperas de quem mexe nas coisas o tempo todo, de quem vive no meio das plantas e dos bichos. Sinto o cheiro de mato molhado que vem da sua boca, e o aperto forte dos braços fofos que me envolvem tão sabendo o que querem comigo.
Ouço a respiração que é de bicho, é de quem se desespera pelo momento, é de quem quer se perder ali comigo. Ouço, devagar e baixo, os gemidos sufocados pelas virtudes tão bobas que o tentar-parecer-homem obriga; e peço que gema, peço que grite, que ali é um segredo e o mundo lá fora não existe, além da chuva e das flores que ele me colocou na janela.
Quando ele vem à noite, fechamos os olhos e nos vemos melhor. Encontramos no instante a felicidade - mais que o tesão, a felicidade - de estarmos juntos, e de estarmos sós.
Quando ele vem à noite, pouco falamos; devagar e como quem sempre foge, deixo ele se enfiar em mim como bicho que sabe o caminho desde antes de nascer. E gosto, e gozo, e durmo feliz.
2 Comments:
Uma dinâmica botânica de flores...
Me lembrei de uma das animações do The Wall...
Segredo entre quatro apredes é algo que alimenta a vida. É um tempero, se é que pode-se chamar assim... faz bem =)
100+ 8)
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