sexta-feira, setembro 15, 2006

Carta de despedida

Então essa guru-vidente olhou para mim. E eu disse: estou mal. Muito mal. Eu preciso de alguma coisa, mas não sei o que é. E ela então acendeu um incenso, começou a colocar umas agulhas na minha orelha e depois sem que eu falasse nada, me disse: menina, preste atenção. Você é muito sensível e como está assim frágil, absorve muita energia ruim. Se continuar assim, você vai cair. Você tem que se fortalecer e se fechar para a energia ruim. Você tem que se libertar desse seu medo. Você sofreu um trauma quando era pequenininha e não lembra direito do que aconteceu, mas por ser assim, tão sensível, você captou o medo da sua mãe e toda essa energia de perder seu pai. Não precisa mais ter medo de perder. Não vai acontecer mais nada com você. Mas você precisa entender. Você não tem culpa do que aconteceu. Você não precisa mais se preocupar. Você tem tanto medo, que acaba mostrando isso para as pessoas com que se relaciona. E elas fogem de você porque também sentem medo. Medo do medo... Preste atenção: ninguém vai preencher esse vazio que existe em você. Só você.

Falou tudo isso numa tacada enquanto eu derramava lágrimas silenciosas. Depois disso, eu só posso me despedir de tudo o que passou para me libertar, para me redescobrir sozinha.
Então, primeiro eu me despeço daquele menino lindo que me fez descobrir o amor infantil. Passei 7 anos tendo um caso meio platônico, esperando o homem leviano ser só meu. Adeus. Me despeço do menino que me ensinou o sexo, com muito carinho e amizade. Adeus. Me despeço do meu menino do interior que quebrou o nariz por minha causa. Delícia de costas, pele toda tatuada, menino do bem... apesar de já estar casado e com uma filha, jura até hoje que eu sou a mulher da sua vida. Adeus. Aiai, me despeço dele, do meu namorado. Do homem que eu sonhei jardim, filho, cachorro, que chorei, sofri, tremi, amei, assumi como meu homem! (adeus) Quero me despedir do menino que me ensinou o sexo selvagem-proibido, do menino que me tirou do meu homem para me levar para a mesa de bilhar, para o décimo nono andar, para a escada, cozinha, banheiro, delícia... O pinto mais bonito que eu já vi. Adeus. Quero me despedir da pior trepada da minha vida. Do homem da revolução dos cravos que me fez ver a vida diferente e que participou da melhor época da minha vida. Adeus... Quero me despedir do filho da puta do trabalho. Eu, que não quero ser uma despedida de solteiro, o deixo inteiro para a espanhola. Adeus. Me despeço do menino do samba, das idéias de um mundo melhor e da trepada sem camisinha. Adeus. Me despeço do último, sem ter muita certeza... do cheiro do meu fotógrafo, do jantar que ele faz pra mim, da maconha com filme e dos silêncios doídos. (adeus)...
E que venha o meu primeiro amor!!!!

2 Comments:

Blogger malvinas said...

O mundo é bom...
vale a pena descobrir

3:40 PM  
Blogger malvinas said...

olha... to meio que na mesma que você, deixando ir. A gente tenta tanto agarrar que acaba sufocando e afastando.
E que venha o mundo, Malvina.
Cheers!

3:48 PM  

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