sexta-feira, janeiro 12, 2007

E o meu tempo?

"Quem tem dois corações
Me faça presente de um
Que já fui dona de dois
E já não tenho nenhum..."

O versinho, na voz de Maria Betânia, não me sai da cabeça enquanto eu vou e volto de trem até um dos milhares de trabalhos voluntários que eu arrumei nos poucos meses em que estou aqui. Mal cheguei, e já estou entupida de coisas: aqueles precisam de mim, esses me querem, esses podem pagar um pouco mais, aqueles oferecem a sua linda amizade, aqui é perto do centro da cidade, um é perto do outro. No trem, ao lado de um negão enorme que eu nem imagino de onde seja, leio o horóscopo do tablóide que, acertadamente, me diz: "nas últimas semanas você dedicou tempo demais aos outros, agora é hora de pensar em você". É verdade, fui a melhor esposa, amante, querida, amiga que um podia querer. Porque ele veio, veio sozinho e carente, e pedindo atenção e eu fui dando. Agora percebo, depois de dois dias largada na cama, que estou esgotada. Fisica e mentalmente, esgotada de tentar de novo ser o que eu tinha me prometido não ser: a puta dos outros. Sempre com um sorriso aberto, sempre com uma palavra amiga, sempre olhando o futuro meu e o alheio com otimismo. E engolindo os leões que vão aparecendo no coliseu de Roma. E coitado do homem, o homem só recebeu, tomou, lambuzou-se do meu lado santinha e cachorrinha. Estou enfadada. Estou cansada demais, a vontade é dormir pra sempre (de novo...). Engraçado, e não é só com o homem, é com tanta gente, é com inúmeros patrões, ou contra-patrões, ou sobrepatrões que eu vivo a ajudar, dar a mão, dar a alma, e olha! sem cobrar nada. Ainda agora estou sofrendo pra dizer não pra alguns deles, fico me torturando: ah, mas eles precisam de mim... esses precisam de mim... eles me querem... Todo mundo, eu no meu egocentrismo absoluto acho, precisa de mim. E eu?
Engraçado, me sinto sem coração. Tenho medo de dizer não e ser rejeitada. E tenho medo de dizer não e nunca mais ser bem quista. A menininha banquinha e bonitinha segue tentando agradar todo mundo. Mas eu não quero, quero tempo pra mim. Quero tempo pra me perder no fundo do Coliseu, sozinha, como me aconselhou um velho sábio que eu amo. Perdi o tempo? Perdi algum, ganhei outro, mas olha, esse ano não dá mais. Esse ano é pra mim, só pra mim, pra as coisas que eu gosto e que vão custar caro a quem quiser ter. Porque ora, se eu não preciso, se eu não quero, tenho que ter a coragem de dizer não ao mundo. E talvez seja essa a tarefa mais dura do ano: Vai, Malvina, aprender a dizer NÃO.

1 Comments:

Blogger malvinas said...

ô flor.... ontem estava naquele nosso bar onde já conversamos tanto e senti tanta saudade de vc!!!! Hoje, quando li esse texto deu mais saudade ainda. Queria tanto dividir tanta coisa boa com vc (tá tão bom...) e saber tanto da vida aí.
Quanto ao não: diga mesmo! Você não vai perder ninguém por respeitar os seus limites, acredite! Saudade grande!!!

1:34 PM  

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