CURTAS DA BANALIDADE DA VIDA
do trabalho
seis horas da manhã, travessa da heitor penteado. dirijo sonada em direção à produtora. como profissional responsável que sou, chegarei meia hora antes da equipe pra garantir que está tudo certo. como maconheira véia que sou, lembro que esqueci de pedir três-tabelas e de checar se o kit de luz vem completo, com as prolongas, a porra da caçapa piau, etc etc... enfim: uns acessórios de nomes estranhos mas que não passam de coisas que os seres humanos normais chamam de tomadas e extensões, ou ainda algumas outras coisas que sei pedir pelo nome, mas que não sei o que são - mas que sei que o eletricista (ou, pior, o fotógrafo) irá me xingar se não estiverem lá. me desespero momentaneamente e disco o número da locadora de equipamentos. tudo ok. respiro aliviada. minha reputação profissional está a salvo por meia dúzia de cabos e dois caixotes de madeira.
estou distraída ainda pensando em acessórios de luz, olhando pra fora da janela com o carro parado num farol vermelho e vazio. sem perceber, estava observando um gari que trabalha varrendo a calçada. ele me desperta do transe:
- essa aqui não dá não!
- oi?
- a vassoura. olha só! - ele mostra a vassoura careca, rindo - não dá pra trabalhar asim não!
- nossa, é verdade.
- o fiscal disse que vai trazer outra ainda hoje. mas vai saber né? ruim é ter que depender dos outros pra poder trabalhar.
ruim mesmo é depender de objetos que os outros nos provém, eu penso.
- pois é. também acho.
- dá não, fia! ó, o farol abriu! tchau!
- tchau.
do amor
nove horas da manhã, meu despertador toca. aproveitei o dia calmo pra acordar mais tarde, mas ainda com tempo de dar uma enrolada na cama com meu namorado, aquela trepadinha básica da manhã e os carinhos todos de quem dorme agarradinho no frio. delícia. mas ele está de costas pra mim. sei que acordou com o despertador também e tento fazê-lo virar. nada. ele me ignora. insisto um pouco.
- hmm gata, me deixa dormir mais um pouco. - e continua de costas.
fico decepcionada e irritada. depois triste. ele não gosta mais de mim. estou gorda. ele não me quer mais. por que fui comer antes de dormir? é por essas que ele não tem mais tesão. malvina, a baleia assassina.
- hmm, hmm - ele resmunga - tive uns sonhos estranhos...
- que foi?
- ... - e continua de costas.
- conta.
ele vira e me abraça:
- sonhei que eu estava gravando um carro de fórmula 1 e quando eu voltei você estava de biquininho, toda gostosa, se esfregando nos mecânicos. e eu ficava louco de ciúme e você não parava. e no final do sonho eu te matei.
seis horas da manhã, travessa da heitor penteado. dirijo sonada em direção à produtora. como profissional responsável que sou, chegarei meia hora antes da equipe pra garantir que está tudo certo. como maconheira véia que sou, lembro que esqueci de pedir três-tabelas e de checar se o kit de luz vem completo, com as prolongas, a porra da caçapa piau, etc etc... enfim: uns acessórios de nomes estranhos mas que não passam de coisas que os seres humanos normais chamam de tomadas e extensões, ou ainda algumas outras coisas que sei pedir pelo nome, mas que não sei o que são - mas que sei que o eletricista (ou, pior, o fotógrafo) irá me xingar se não estiverem lá. me desespero momentaneamente e disco o número da locadora de equipamentos. tudo ok. respiro aliviada. minha reputação profissional está a salvo por meia dúzia de cabos e dois caixotes de madeira.
estou distraída ainda pensando em acessórios de luz, olhando pra fora da janela com o carro parado num farol vermelho e vazio. sem perceber, estava observando um gari que trabalha varrendo a calçada. ele me desperta do transe:
- essa aqui não dá não!
- oi?
- a vassoura. olha só! - ele mostra a vassoura careca, rindo - não dá pra trabalhar asim não!
- nossa, é verdade.
- o fiscal disse que vai trazer outra ainda hoje. mas vai saber né? ruim é ter que depender dos outros pra poder trabalhar.
ruim mesmo é depender de objetos que os outros nos provém, eu penso.
- pois é. também acho.
- dá não, fia! ó, o farol abriu! tchau!
- tchau.
do amor
nove horas da manhã, meu despertador toca. aproveitei o dia calmo pra acordar mais tarde, mas ainda com tempo de dar uma enrolada na cama com meu namorado, aquela trepadinha básica da manhã e os carinhos todos de quem dorme agarradinho no frio. delícia. mas ele está de costas pra mim. sei que acordou com o despertador também e tento fazê-lo virar. nada. ele me ignora. insisto um pouco.
- hmm gata, me deixa dormir mais um pouco. - e continua de costas.
fico decepcionada e irritada. depois triste. ele não gosta mais de mim. estou gorda. ele não me quer mais. por que fui comer antes de dormir? é por essas que ele não tem mais tesão. malvina, a baleia assassina.
- hmm, hmm - ele resmunga - tive uns sonhos estranhos...
- que foi?
- ... - e continua de costas.
- conta.
ele vira e me abraça:
- sonhei que eu estava gravando um carro de fórmula 1 e quando eu voltei você estava de biquininho, toda gostosa, se esfregando nos mecânicos. e eu ficava louco de ciúme e você não parava. e no final do sonho eu te matei.
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