era sábado, e chovia. não tinha frio, que era verão. mas chovia e chovia. e o bilhete-desenho guardado na gaveta doía. doía não: incomodava. a eterna dúvida de se atirar ou não no precipício. mas dessa vez era pior, ela pensava. e chovia.
não que houvesse música, pois não havia. havia, sim, algo tocando na antiga vitrola encostada no canto. mas não que preenchesse. a chuva se sobrepunha aos acordes. e o bilhete, lápis preto borrado, dobrado no meio - ah, que pena, já um pouco amassado - em outro cômodo da casa mas tão presente como se ela ainda estivesse escrevendo (desenhando?). desenhara as letras com um cuidado tão desajeitado quanto o modo que conduzira tudo até ali.
o vinho não estava dos melhores. e chovia. o i-ching inacreditavelmente direto, como às vezes acontece. duas perguntas sobre o mesmo tema, duas respostas que se completaram. tão absurdo que deu ainda mais medo de seguir o que ele dizia - embora ele dissesse exatamente o que ela gostaria de ouvir. ela era o tipo da pessoa que não acredita nas coisas que são ditas exatamente como ela gostaria que fossem. e chovia.
a oportunidade tão perto e tão longe: como tentar agarrar a própria sombra. a decisão tão óbvia, mas a iniciativa tão difícil. inerte como a chuva que chovia ritmada. ela chovia também, inerte e ritmada. sem ânimo para os raios que consomem de vez em quando e com medo dos trovões que vêm depois deles.
não que houvesse música, pois não havia. havia, sim, algo tocando na antiga vitrola encostada no canto. mas não que preenchesse. a chuva se sobrepunha aos acordes. e o bilhete, lápis preto borrado, dobrado no meio - ah, que pena, já um pouco amassado - em outro cômodo da casa mas tão presente como se ela ainda estivesse escrevendo (desenhando?). desenhara as letras com um cuidado tão desajeitado quanto o modo que conduzira tudo até ali.
o vinho não estava dos melhores. e chovia. o i-ching inacreditavelmente direto, como às vezes acontece. duas perguntas sobre o mesmo tema, duas respostas que se completaram. tão absurdo que deu ainda mais medo de seguir o que ele dizia - embora ele dissesse exatamente o que ela gostaria de ouvir. ela era o tipo da pessoa que não acredita nas coisas que são ditas exatamente como ela gostaria que fossem. e chovia.
a oportunidade tão perto e tão longe: como tentar agarrar a própria sombra. a decisão tão óbvia, mas a iniciativa tão difícil. inerte como a chuva que chovia ritmada. ela chovia também, inerte e ritmada. sem ânimo para os raios que consomem de vez em quando e com medo dos trovões que vêm depois deles.
5 Comments:
Bonito...
interessante... tão peto e tão longe...
Assim sinto as vezes quando venho aqui...
Os seus textos fazem isso...
Tão perto e tão longe....
Um (in)visivel....
ficção meio autobiográfica... funcionou?
É as vezes ler essa especie de diario com pitadas de lemóm da para entender o outro lado...
Esse lado delas e meu tambem.. se me entende menina..malvinas
wev´s, já dizia gil:
"ser um homem feminino/ não fere o meu lado masculino..."
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