Clarice e um livro para criança
"No tempo em que as pessoas nasciam em repolhos e que as bicicletas voavam, havia uma pequena cidade chamada Pamonhas.
Em Pamonhas havia uma casa amarela, onde morava uma garota chamada Mel.
Mel tinha algo diferente; onde quer que ela fosse, estava sempre rodeada de borboletas.
Os moradores da cidade achavam muita graça naquilo e se divertiam:
- É que ela nasceu num repolho esquisito!
- Nasceu num repolho mofado!
- Num repolho repolhudo!
Mel ouvia tudo muito triste, baixava a cabeça e pensava: Não vou chorar, não vou chorar! E saía correndo antes que alguém visse suas lágrimas.
Mel era assim, magoava-se com qualquer coisa, qualquer coisinha de nada."
(...)
Sem querer, ela desatou a chorar. No começo de mansinho, depois bem alto, de soluçar mesmo. Passou a mão no pescoço, surpresa.
- O nó! O nó desapareceu!
Ele sorriu. Mel compreendeu que podia desatar seus nós. E foi assim que aliviou o coração. Chorou mais um pouco e dessa vez era choro de emoção e não de tristeza. sentiu-se, secretamente, feliz.
Passaram-se os dias e o tempo passou.
Kiko ensinou a Mel como desfazer o nó de nariz.
Mel, agradecida, dividiu com ele suas borboletas.
Nós de Eva Furnari.
"Muito antes de sentir 'arte' , senti a beleza profunda da luta. Mas é que tenho um modo simplório de me aproximar do fato social: eu queria 'fazer' alguma coisa, como se o escrever não fosse fazer. O que não consigo é usar o escrever para isso, por mais que a incapacidade me doa e me humilhe. O problema da justiça é em mim um sentimento tão óbvio e tão básico que não consigo me surpreender com ele - e, sem me surpreender, não consigo escrever."
Fundo de gaveta de Clarice Lispector
Em Pamonhas havia uma casa amarela, onde morava uma garota chamada Mel.
Mel tinha algo diferente; onde quer que ela fosse, estava sempre rodeada de borboletas.
Os moradores da cidade achavam muita graça naquilo e se divertiam:
- É que ela nasceu num repolho esquisito!
- Nasceu num repolho mofado!
- Num repolho repolhudo!
Mel ouvia tudo muito triste, baixava a cabeça e pensava: Não vou chorar, não vou chorar! E saía correndo antes que alguém visse suas lágrimas.
Mel era assim, magoava-se com qualquer coisa, qualquer coisinha de nada."
(...)
Sem querer, ela desatou a chorar. No começo de mansinho, depois bem alto, de soluçar mesmo. Passou a mão no pescoço, surpresa.
- O nó! O nó desapareceu!
Ele sorriu. Mel compreendeu que podia desatar seus nós. E foi assim que aliviou o coração. Chorou mais um pouco e dessa vez era choro de emoção e não de tristeza. sentiu-se, secretamente, feliz.
Passaram-se os dias e o tempo passou.
Kiko ensinou a Mel como desfazer o nó de nariz.
Mel, agradecida, dividiu com ele suas borboletas.
Nós de Eva Furnari.
"Muito antes de sentir 'arte' , senti a beleza profunda da luta. Mas é que tenho um modo simplório de me aproximar do fato social: eu queria 'fazer' alguma coisa, como se o escrever não fosse fazer. O que não consigo é usar o escrever para isso, por mais que a incapacidade me doa e me humilhe. O problema da justiça é em mim um sentimento tão óbvio e tão básico que não consigo me surpreender com ele - e, sem me surpreender, não consigo escrever."
Fundo de gaveta de Clarice Lispector
3 Comments:
Interesting....
:-)
Tenho uma amiga que vive nesse mundo da pamonha...
Lá em Piracicaba...
ok, clarice, está justificada. sabia que tínhamos alguma coisa em comum.
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