quarta-feira, agosto 09, 2006

O dia em que eu conheci a Clá

Aprendi a odiá-la. Era tudo o que eu sabia sobre ela: tinha que odiá-la. Porque roubara o namorado da melhor amiga, porque se inimizara com a melhor amiga, porque assim queria a melhor amiga. Porque a gente tem que odiar alguém, pô! A gente não pode ser boazinha o tempo todo. Daí que faz dez anos que eu a vejo e odeio seus grandes olhos claros, a maneira como ela parece se pensar sempre um pouquinho superior, a maneira como ela não sorri para quase ninguém.
Mas vai que, com tudo que se passa na minha vida agora agorinha, mais tudo o que se passou, mais um monte de maconha que religiosamnete tenho tragado, não reconhci que ela, aquela menina sentada ali na mesa do bar com velhos e animados amigos, era ela, a Clá. Fui sentando. Cerveja cerveja. E fomos conversando, fui me abrindo, foi ela se abrindo também. Falamos muita besteira, demos risada... Um dos meninos insistis que ela tinha que dar pra ele, numa eufemística "terapia corporal", a mesma brincadeira que já vi tantas vezes. Tentava beijá-la. Cerveja cerveja. Ela ficava sem graça, ela ria sempre, ela dava beijinhos de brincadeira. Uma menina, uma menina igual a mim - pior: uma menina muito parecida com a melhor amiga.
Quando descobri o teatro de erros, que quela menina já meio bêbada era a Clá, vixe!, já estava gostando dela. E foi aí que veio o papo, ela também tinha se separado há pouco tempo, no caso dela foram 7 anos, e falamos do sofrimento, falamos de quanto os amávamos, falamos da dificuldade de ser de novo uma pessoa. Falamos de raiva - e ela tem tanta raiva dentro dela, ela é tão dura! Eu a alegrando: não fica assim, passa, pode acreditar que passa... Porque comigo passou. Dói ainda, mas passou. O dela foi pra Portugal; o meu, pra a Espanha. Cerveja cerveja. Gostam de sovaco peludo, brinquei. Ela riu.
Mas a tristeza já havia tomado conta dela. Falei que ela devia se cuidar: olha, faz dez anos que eu te vejo de longe, e seus cabelos sempre assim, desgrenhados, as roupas meio soltas, parece querer se mostrar mal! Pra quê? Pra que o mundo lhe tenha pena? A dor que ela carrega a faz triste, a faz dramática, e a faz forte. Bonita, a menina! E sofria pelo mesmo namorado que roubou da minha amiga, que foi roubada da minha amiga, que amou a todas e depois foi pra Portugal! Cerveja cerveja...
No final, ela me agradeceu: "precisava conversar com alguém como você, quero mais, me liga por favor!". Eu fiquei quieta, ela nem imagina. Tive muita dó dela. E muita dó desse triste circo de ilusões e desencontros que é o amor...

2 Comments:

Blogger malvinas said...

POLÊMICA:

Será que daqui a 10 anos a melhor amiga vai sentar com a espanhola e bater um papo, e tipo tudo bem??? MEDO!!!

3:02 PM  
Blogger malvinas said...

Medo mesmo!! Afe!

7:43 PM  

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