quarta-feira, outubro 04, 2006

Mãe,

Ontem eu estava numa sala de espera, e li um texto bobinho-bobinho sobre mães e filhos numa revista. Eu sou bobinha-bobinha (isso você não sabe): meus olhos encheram de lágrimas e meu coração apertou forte igual quando eu era pequeninha, e a mpça veio me chamar pra entrar. E que nem quando eu era pequeninha eu fiquei com muita vergonha, e ri bastante pra fingir que não tava chorando nada.

Eu tava chorando, mãe, não sei por quê. Mas tava doendo muito, e tá doendo ainda, porque eu te amo, mãe. E eu nunca falei isso, e talvez por isso você ache que sou tão insensível e sem coração (justo eu, mãe!). Mas eu só sou tímida, mãe, você sabe que eu sou assim, eu sempre tive insônia antes do primeiro dia de aula, eu sempre chorei quando as crianças me xingavam, eu sempre fiquei muito aflita quando todo mundo olhava pra mim.

Mãe, eu não sei o que eu fiz de tão errado, eu não sei porque você está com tanta raiva de mim. Igualzinho quando você brigava comigo quando eu era pequenininha e eu não entendia direito por quê - quando a gente é criança nem sempre a gente entende o que fez de tão errado. Eu me sinto assim de novo, e sei que deve ser alguma coisa que não é nada do que consigo chegar perto de saber, e deve ser algum mal-entendido, mas nessa vida doméstica os mal-entendidos vão passando e se atropelando, e quando a gente vê já tá doendo, mãe, e a gente nem tem mais como explicar o quê, nem como pedir desculpas e dizer que não fez de propósito.

Mas eu juro, mãe, eu juro pela minha boneca preferida, por todos os meus papéis de carta e pelo menino de olhos azuis do colégio, eu juro que não foi por querer. E juro que, mesmo que você não compreenda algumas coisas que eu faço, algumas coisas que eu farei, eu juro que pensei em você em todas elas. Eu prometo que sim. Não esquece quem eu sou, não, mãe, que eu não esqueço quem você é.

Mãe, conta de novo uma história pra mim, ouve de novo as minhas histórias, eu prometo que você vai entender melhor. Eu não quero que você ache que sou outra pessoa, não, mãe: eu sou a mesma menina gordinha, que gosta de tudo cor-de-rosa, que devora os livros de histórias e é chorona, e meu maior sonho continua sendo ter um sapato de verniz.

Um beijo, mãe.

Da sua filha querida.

1 Comments:

Blogger malvinas said...

Amor, como eu queria que ela lesse essa carta... olha, eu juro que tudo vai ficar bem, viu??? juro juro juro!

9:53 PM  

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