quarta-feira, janeiro 23, 2008

do amor chuvoso


tem um pedacinho de gelo no meu coração.

e uma nuvem enorme em cima das nossas cabeças.



aqui, quando chove, a cidade fica muito cinza e muito verde. parece incoerente pra quem não é daqui, mas é exatamente o que acontece. porque quando faz sol – ah, quando faz sol! – a cidade é muito azul e muito amarela. é como se as cores da praia estivessem na cidade inteira: verde e cinza quando chove; azul e amarela quando faz sol.

estive muito com o nelson rodrigues nesses últimos dias. tenho certeza que – apesar de tudo – ele, como eu, se apaixonava e reapaixonava por essa cidade nos dias de sol, mas tolerava os dias de chuva – e até os amava – como toleramos e amamos os defeitos do objeto do nosso amor quando estamos apaixonados.

ah!, o amor…

quando ele existe? por quanto tempo? nos iludimos que ele começa ou nos iludimos que ele termina? dá pra medir o amor? dá pra saber até quando ele vai durar? dá pra saber se ele já acabou?

(eu tenho medo, muito medo, do meu amor acabar. mas também tenho medo de que ele não acabe nunca.)

eu sonhei esta noite com um antigo amor. um amor que doeu, que viveu, que morreu, que acabou… mas que ainda aparece nos meus sonhos, por mais que me pareça inexplicável.

será que o meu amor também sonha com antigos amores que morreram viveram e acabaram?

olho pela janela: o verde mais verde e o cinza mais cinza do que nunca, e uma pálida luz prateada. vejo as casas de santa teresa incrustadas na mata, o céu branco, o cristo de braços abertos que abençoa a cidade perdoando sua beleza – porque, como diria nelson, a beleza física é um pecado. talvez o pior deles, porque é inato.

será que me apaixonei também por essa cidade?

onde está o amor? onde ele fica? onde ele dorme? de onde ele vem quando aparece de repente, no meio de um gole, no meio de uma frase, num suspiro? pra onde ele vai quando a gente procura e não encontra mais?


(acho que vou sair pra comprar cigarros. e verei a cidade cinzaverde dentro e fora de mim; e seus cariocas que não sabem andar na chuva – batendo as sombrinhas e pisando nas poças.)

2 Comments:

Blogger Malvinas said...

Demorei pra dizer: esse texto e lindo! Adorei.

3:48 PM  
Blogger Clarissa Neder said...

Simplesmente perfeitoo gostei muitoooooo mesmo, as malvinas que o digam !!! Genial lírico, doce e claro, mostra que o amor vem......passa por nossa vida, ilumina ..e quando menos esperamos se foi ..assim de um jeito inesperadooooooo ..o jeito é amarrrrrrrrrrrr e amarrrrrrrrrrrr da forma mais plena quando o temos por perto.
...inté ....

12:01 AM  

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