quarta-feira, novembro 16, 2005

óculos escuros

são mil insatisfações que invadem minha alma.

e eu nem sei por quê.

mas é fácil nessa hora botar a culpa na carência, na falta de amor, na saudade do "amor quentinho", como uma malvina tão bem denominou aqui esse amor que aquece a nossa alma nas horas de angústia, e o nosso corpo nas madrugadas frias.

eu tenho saudade do amor quentinho.

ou azulzinho, como disse o djavan.

aquele amor que apazigua, que acalma, que no meio do congestionamento às oito da manhã, atrasada para um compromisso, com uma perspectiva tenebrosa de dia pela frente, faz a gente pensar: "pelo menos tenho uma coisa boa nessa vida".

mas pra mim ele doeu demais. deixou de ser quentinho e passou a ser quente-amargo-ardido-doído-tedioso.

aí acabou.

fiquei por minha conta e risco, e rio de mim mesma ao pensar que ando com óculos escuros na bolsa mesmo à noite, com medo de no dia seguinte sair de ressaca de uma cama/casa desconhecida e ter de enfrentar o dia insuportavelmente claro sem nenhuma proteção.

e meu coração também anda por aí sem nenhuma proteção. (ai, que preciso de um óculos escuros pra ele!)

não acho ruim não. mesmo quando acho que minha carência chegou ao limite, sempre aparece alguém interessante pra me distrair.

um amigo.

um quase-desconhecido.

um amor que me faz gostar de sofrer um tantinho.

mas nas horas em que tudo parece tão ruim, tenho saudade do meu amorzinho. não daqueles que se foram, mas aquele que será. dá pra ter saudade de alguma coisa que ainda não aconteceu?

pois pra mim dá.

tenho saudade de estar apaixonada, de sentir o calor-frio no peito só de pensar em alguém, de assistir filme no vídeo agarradinho, de dormir de conchinha, de ser a mais linda para o mais lindo.

mas isso a gente não resolve, não decide, não manda acontecer.

não é que tem de ter paciência? não é que tem de dar tempo ao tempo? não é que não pode procurar?

não é?

pois é.

por isso, por enquanto continuo carregando meu óculos escuros na bolsa.

porque eu detesto sol no meu olho.