sexta-feira, novembro 11, 2005

o mais doce cafajeste (ou "amigos são pra essas coisas")

queria que todos fossem como ele.

em primeiro lugar, é bonito. mas não de uma beleza unânime, nem estável: agrada muito a alguns, e nada a outros; muda conforme o dia, o humor, e o quão junkie está sua vida - às vezes parece galã de cinema francês, às vezes está mais pra moleque meio acabado. além disso, se veste bem - tem coisa melhor do que homem que sabe se vestir? tem estilo pra ter o estilo que tem - sabe aquele cara que usa terno e gravata só pra fazer um tipo, mas o faz com propriedade? é ele. adoro quando ele aparece de terno preto amarrotado, gravata meio afrouxada no colarinho aberto, óculos e caneta no bolso, o cabelo liso e preto estilo meio despenteado, meio caindo no olho.

é pura pose, mas com sinceridade. não esconde de ninguém que gosta de atuar. tem ironia fina, mas sabe contar piada de caminhoneiro como ninguém. é um dos piores machões numa roda de trogloditas, mas faz questão de deixar uma dúvida pairando quanto aos possíveis meninos de quem ele suga o sangue por aí. afinal, é um sedutor, e os bons sedutores encantam independentemente do sexo. bebe, fuma e cheira como um alucinado - tem coisa mais sedutora do que um junkiezinho? casou aos dezessete anos, teve uma filha aos dezoito - é pai, olha que graça! - e hoje está separado, graças a deus. e era fiel à mulher, ou pelo menos tentava.

claro: tem um beijo gostoso. é atrevido e baixo nível - "você é muito gostosa", e é daí pra baixo. na cama é profissional sem o menor tom de técnica, totalmente entregue, mas totalmente ótimo. não vale nada, como eu sempre digo pra ele, mas sabe escrever poema no verso de um folheto meio úmido de cerveja. não era uma obra-prima da literatura, mas cumpria muito bem a função - é o tipo do cara que sabe fazer as coisas.

é um cafajeste delicioso, em suma. é absolutamente sincero nas suas mentiras. tem um brilho no olho que é um imã - delícia conversar bem de perto, olhando fundo nos olhos pretos. sabe tratar uma mulher. sabe ser cafajeste sem magoar - pra quem o entende, como hoje posso dizer que entendo. sei a dor de quem se apaixona por ele. fui absolutamente fascinada por ele, de perder o chão, de esquecer namorado, bom-tom e convenções sociais à primeira palavra doce que ele me dirigia. mas passou. um dia, sem mais nem menos, passou. foi a melhor coisa que me aconteceu. sem a paixão louca que me tirava do ar, posso aproveitá-lo ao máximo. é um grande amigo, que amo de todo o coração. e um delicioso amante, que estou sempre disposta a receber. tem o dom de aparecer na hora certa (adoro essas pessoas!), me elogia, me põe pra cima e, ao nosso modo, me ama muito também.

ontem trocamos juras de amor eterno. desse amor maluco e construtivo, que fica guardado num departamento certo do coração, e que dali não sai - e nem tem porquê sair. me defendeu da minha auto-depreciação como ninguém, e me faz o tempo todo lembrar que sou mulher. mulher em toda a extensão da palavra. tem sensibilidade e logo saca o que está acontecendo - a ponto de tirar um sarro muito bem tirado daquele que tanto me fez sofrer. vingou-me com a maior naturalidade e ironia; eu não faria melhor nem no dia mais inspirado.

pra completar, tem um lindo nome, é pena não poder dizê-lo aqui.

e é fotógrafo.