segunda-feira, novembro 28, 2005

farewell

Ya no se encantarán mis ojos en tus ojos,
ya no se endulzará junto a ti mi dolor.

Pero hacia donde vaya llevaré tu mirada
y hacia donde camines llevarás mi dolor.

Fui tuyo, fuiste mía. Qué más? Juntos hicimos
un recodo en la ruta donde el amor pasó.

Fui tuyo, fuiste mía. Tu serás del que te ame,
del que corte en tu huerto lo que he sembrado yo.

Yo me voy. Estoy triste: pero siempre estoy triste.
Vengo desde tus brazos. No sé hacia dónde voy.

...Desde tu corazón me dice adiós un niño.
Y yo le digo adiós.



a história desse poema do neruda, pra mim, é bem engraçada. tudo começou quando, lá no primeiro ano de faculdade, bixete sem saber de nada, fui com uma certa malvininha, também bixete, ao bar que julgávamos ser "o" bar frequentado pelo pessoal da faculdade - hoje sei que, sim, ele é frequentado pelo pessoal da faculdade: o pessoal do sexo masculino mais mala, tosco e chavequeiro possível. enfim. recebemos um torpedo (nesse bar os torpedos batem todos os recordes mundiais: mais ou menos um a cada três minutos) com a primeira estrofe desse poema. só isso. não pedia telefone, nem nome, nem nada. achamos fofo e respondemos agradecendo o poema. o autor do torpedo apareceu e pasmem! era um gato. lindo, de óculos, terno e cara de árabe. e mais: era do meu curso.

no fim não deu em nada: durante um tempo a gente ainda se cumprimentava nos corredores, trocava uma idéia e tal. mas depois veio férias, greves, nem sei mais o quê e paramos até de nos falar. hoje ainda o vejo de vez em quando e lembro disso. acredito que ele também lembra de mim, mas nem nos falamos. o poema, no entanto, ficou. joguei no google uns dias depois essa primeira estrofe e descobri que era um poema, na verdade uma parte de um poema, chamado "farewell", adeus. lembrei também que ele é recitado naquela música dos titãs, "só quero saber do que pode dar certo", na versão do acústico MTV. decorei o poema, em espanhol, aprendi direitinho os acentos e dei pra escrevê-lo em tudo quanto era lugar. todos os meus amigos têm (pelo menos) um caderno ou agenda com ele escrito - ainda hoje adoro, quando estou bêbada, tendo caneta e papel à mão, ficar desenhando seus versos, com letra bem caprichada, mesmo que seja num guardanapo.

o mais engraçado de tudo, é que durante todo esse tempo (isso faz uns três anos, quase) eu adorava o poema, mas ele não fazia o menor sentido na minha vida. não tinha a ver com as minhas histórias. eu não sentia vontade de dizê-lo a ninguém. não combinava nem mesmo com meus rompimentos. mas ele me dizia algo, como uma premonição, com uma saudade do que ainda iria acontecer.

acertei em cheio. e só hoje, hoje mesmo, dia 28 de novembro, seis meses depois do fim do meu namoro, fui perceber o quanto ele diz por mim exatamente o que eu queria dizer (e não consegui) quando botei o ponto final mais atrapalhado e certeiro da minha vida. ainda bem que pelo menos percebi.