quinta-feira, março 09, 2006

A novela do Carnaval - Parte II ou: E Quando Rola Tudo, Menos...?

Bom, fui procurar marido, assim, nem que fosse por uma noite, um rapaz que soubesse e quisesse me fazer as vontades e gastar um tempinho num namoro gostoso... Nos primeiros dias vasculhei as ruas de Olinda cheias de gringos brancões e negões sarados, tendo que desviar desses e daqueles braços e mãos mais afoitos (pois é, lá vc tem que desviar se quer sair intacta).
Mas eis que, afinal, no terceiro dia me passa um rapaz, o olhar negro penetrante me empurra um calafrio espinha abaixo, e eu na de virgem, né? O rapaz puxa um papo, é papo gostoso e em língua estrageira, que eu adoro, vou namorando os contornos dele, o nariz forte, o queixinho bem talhado, com aquela covinha (ai! Como não ser uma apaixonada pelos homens!), o pescoço grosso, os braços com curvinhas de se escorregar a mão, o cheiro de homem mais perto, e o sorriso (ai! como resistir a um sorriso bonito!).
Ainda o rapaz é educado, me puxa cadeiras para eu sentar, me compra cerveja e - ah, afinal eu não estava tão difícil assim, né? Vem o beijo, devagar, o primeiro, o segundo, e vamos para a praia olhar o mar, o céu de estrelas e o abraço gostoso, começamos a conversar sobre tudo, falamos sobre a terra dele, Israel, que eu conheço, falamos sobre estrelas e a lua que só aparece tarde da noite, nos namoramos as formas, falamos sobre nossos detalhes em voz baixa, falamos sobre... TERRORISMO.
Ai, dor! Não é que o rapaz era soldado, aliás, capitão, daqueles bem de filme mesmo: "meus soldados são muio bem preparados". Ix... Aí o papo desanda, ele começa a contar das ações que comandou, caçando terroristas, começa a falar dos palestinos, o ódio se vê nos olhos negros, e eu digo que não, que não deve ser assim, ele cala minha boca: "você não sabe o que está falando, nunca viveu em um país em guerra, nunca teve nenhum amigo morto pelos terroristas". Ai, meu deus! Que dilema moral! Dou ou não dou? Por sabe, é difícil rolar muito gostoso assim, logo na primeira noite; é difícil encaixar os corpos, e principalmente é difícil controlar o tesão quando ele já está assim tão bom... Mas pois: deveria eu deixar de lado minha posição política em prol de uma noite (ou mais) de sexo caliente em terras nordestinas????
Bom, foi que sim. Calei a boca do moço com um beijo, tomei-o pela mão e levei o rapaz para a minha casa, trepamos gostoso até de manhã, gemendo juntinhos, sentindo o gosto da pele do outro, uma descoberta rimada, um ritmo preciso, uma delícia! Inda pensei uma ou duas vezes nos meus amigos e colegas sabendo disso, ai meu deus, DEI PARA O INIMIGO!, mas, afinal, é carnaval, e afinal: as pessoas são muito mais complexas do que artigos que preenchem as páginas brancas das revistas e jornais. Que se dane! E sabe? Mandar isso tudo a merda só aumentou o meu tesão... Eu, ele, ali peladinhos, e a guerra lá longe.
Mas na manhã seguinte, né, tchau, porque daí a procurar o rapaz de novo, ter um casinho, já é ir longe demais. Como diria uma autêntica guerrilheira comunista: "Dar para o inimigo, vá lá, mas apaixonar-se por ele, jamais!"

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Acho que tenho uma frase ideal pra esse episódio:
hay que endurecer, pero perder la ternura jamás.
Ah, vai? não resisti o trocadalho...

12:01 PM  
Blogger malvinas said...

ahahahahahahhaha boa

não foi mole essa história hein malvina??

3:42 PM  
Blogger malvinas said...

Difícil, mas muito bom! Muito bom o comentário também, da anônima mais Malvina... Hasta la victoria, siempre!

2:56 PM  
Anonymous Anônimo said...

Soldados...

uma historia triste, um guerreiro cheio de traumas aqui no Brasil...

Quem é o nosso inimigo? sexo sem fronteiras e sem passaporte...

É essa a idéia

Estou muito cansado

7:24 PM  

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