segunda-feira, julho 17, 2006

queer eye for straight girls (ou: volta ao mundo - capítulo II - reduto gay carioca)

acho que analisar as relações entre os homens homo é uma boa maneira de fazer as mulheres hetero entenderem que nem sempre (ou quase nunca) os homens são propositadamente cafajestes. eles simplesmente têm uma maneira... diferente de se relacionar afetivamente. conto aqui uma historinha que presenciei em terras cariocas (o paraíso das bichas lindas, saradas, divertidas, inteligentes... mas que, infelizmente para as gatinhas deste nosso caro blog, gostam de homens):

téo e felipe foram casados durante vários anos. uns cinco, ou mais, sei lá. téo é escritor, faz o gênero intelectual, de óculos pretos e cabelinho liso. felipe é professor de artes e ator, de dreads, olhos verdes, corpo sarado. se separaram há menos de dois anos. depois da separação, felipe começou a namorar caio: moreno, cabelo raspado, magro, sedutor; estuda arquitetura e trabalha na noite (não é michê, não! trabalha com produção, essas coisas). namoraram durante um ano, mais ou menos, e tínhamos notícia de que tinham acabado de terminar. téo e felipe têm pouco menos de 30; caio tem 24. todos frequentam mais ou menos o mesmo grupo de amigos e conhecidos (no rio de janeiro, como em qualquer grande cidade brasileira, a burguesia é pequena, e a burguesia-artística-intelectual-gay, menor ainda: todo mundo se conhece, ou quase). pois bem. chego no rio de janeiro na quinta à noite e vou para o apartamento de téo, onde iria me hospedar. acendemos um baseado de chegada, aquela conversinha mole, e ele avisa: "o fê está vindo aí ver vocês". dali a poucos minutos, toca a campainha; é felipe:

- oi, queridas... oi téo... ai, gente, me arruma um copo d'água que agora que não moro mais aqui não estou mais acostumado com essa ladeira! (muitos risos de todos).

conversa vai, conversa vem, "como vão as coisas?", etecétera e tal, e nós: "mas e como vai o caio? terminaram mesmo?"

- ai, menina, terminamos. consegui me livrar. finalmente. às vezes é difícil fazer a pessoa entender, né? mas ele ainda tá circulando...

muito bem. fumamos nosso baseado, conversamos um pouco mais e saímos pra comer alguma coisa e tomar uma cerveja. téo ficou em casa escrevendo. voltamos dali uma hora, mais ou menos às 2h da manhã. felipe disse que pretendia ir pra casa; téo insistiu pra que ficasse: era tarde, não ia ter ônibus. fui dormir sem saber o que ia acontecer, afinal. na hora do boa noite, felipe se joga na cama de téo:

- boa noite, meninas! agora o téo vai me fazer uma massagem completa! - detalhe "straight" pra vocês: aquele gostoso, de olhos verdes, super macho à primeira vista... aaahh.. suspiro...

ok. no dia seguinte, fico sabendo que felipe foi embora de madrugada, depois da "massagem". o que aconteceu, não sei, mas acho que é meio óbvio, né? à noite, combinanos de ir numa boate gay bem hype do rio, que fica na lagoa, com téo, felipe, caio (!) e o rolo de téo (!!). se liguem comentários pré-balada, feitos, em separado, para nós, meninas:

FELIPE: hoje é o dia do caio. não tem jeito, prometi pra ele.

TÉO: tô doido pra me livrar dele (o rolo), mas tô devendo uma grana, sem coragem pra terminar. foi uma coisa maluca: eu me apaixonei completamente por ele durante um dia. pra vida toda, mas só durou um dia.

tá. fomos pra boate, no carro do caio. chegando lá, téo com a maior cara de tédio ao lado do rolo (que era bem feinho, por sinal); caio e felipe no maior amasso. pensei que a cara feia de téo era ciúme dos dois, mas que nada: não sei que dispensada ele deu no cara (o rolo), que dali meia-hora o cara se despediu e saiu fora. téo abriu um sorriso, começou a tomar catuaba com a gente e dançar, animadíssimo. ficamos ali, bebendo e dançando, e téo convesando super animado com o ex e o atual do ex que, na verdade, também é ex agora, pelo menos oficialmente. no fim da balada, téo ainda pegou um gordinho peludo (um horror, mas ele adora esse tipo) amigo do seu "rolo". tudo na maior amizade e diversão.

no dia seguinte, fomos a uma festa. cheguei lá com téo. dali a pouco, chegam felipe e caio, no melhor estilo "casal". festinha vai, festinha vem, todos muito bêbados, resolvemos ir de novo à mesma boate. caio não pode: o pai está doente, seriamente doente, e mãe pediu que ele fosse dormir em casa. sem problemas: largou nós quatro na porta da boate, desejou uma "boa balada" parecendo sincero e foi cuidar do pai. téo e felipe "ferveram", como eles dizem, a noite toda juntos: no final, felipe pegou um artista circense, e téo não pegou ninguém porque "estava uma vagabunda. não ia querer beijar e depois ter que dar assistência! aff, um beijo depois parece que vira um casamento!".

no domingo, praia: caio e felipe, novamente no estilo casal, passaram na casa de téo para nos buscar. tudo na maior paz. agora, me digam: que mulher "straight" vai pra casa cuidar do pai doente e deixa o namorada na porta da boate com a ex-mulher dele? que mulher straight dá pro ex-marido numa noite e na noite seguinte "ferve" na balada com ele e o atual? e tudo no maior clima de amizade? ah, não. a gente têm muito a aprender com eles, viu, meninas? pra entender melhor a raça, e - por que não? - também para imitá-los. a vida é boa, gatinhas, e stress de se sentir vítima, o quanto pudermos evitá-lo, melhor. ninguém obriga ninguém a nada. não gostou? tchau e benção. ou leva na tranquilidade, o que é melhor ainda.

8 Comments:

Blogger malvinas said...

Pois é, malvina. Concordo com vc. Mas acho que eu precisaria de um curso super intensivo com os "queer eyes", para, enfim, aprender deveras a ser mais livre.

1:32 PM  
Blogger Wev's said...

Ser livre é mais complicado do que pensas ou escreves...

3:06 PM  
Blogger malvinas said...

ser livre não tem a ver com os outros e sim consigo mesmo. mas o texto tem a ver com isso. não sei se me entendem.

4:09 PM  
Blogger malvinas said...

Si, si, claro: deixar os amores livres, também. Mas, para isso, acho que a pessoa precisa se libertar... será?

5:02 PM  
Blogger malvinas said...

nem era isso que eu tava dizendo. tenho consciência da minha natureza possessiva e nunca faria um discurso do tipo "a maçã" do raul seixas pq sei que não tenho estrutra pra suportar isso - por mais que ache a idéia linda e correta. sou realista: quando amo, não posso dividir.
o que eu queria dizer, mais, era que não adiante ter um discurso de vítima por ser traída, ou por ter que conviver com situações como essa do texto, dizendo que a pessoa é filha da puta e vc é uma vítima de um carrasco. e ficar nessa. acho que ou aguenta, e leva de boa de verdade (ou mais ou menos de boa, pelo menos), que nem esses meninos, ou diz adeus e fica na sua. esse discurso de ficar chamando homem de cafajeste é que acaba ficando bobo e ultrapassado. homens e mulheres se relacionam de maneira diferente. a gente TEM que aceitar isso. (quase) ninguém é filha da puta por hobby.

5:30 PM  
Blogger malvinas said...

Querida queridas queridas: queria dizer isso outro dia, mas achei que ia soar melancólico. Seja com homem, seja com mulher, caras, VAI acontecer.Não tenham dpuvida: VAi acontecer - com o outro e com a gente tb...

5:48 PM  
Blogger malvinas said...

TEM QUE TER MUITO AMOR NO CORAÇÃO, QUE A VIDA É CURTA, NÃO HÁ TEMPO PARA CHURUMELAS.

12:28 AM  
Anonymous Anônimo said...

Very pretty design! Keep up the good work. Thanks.
»

6:50 PM  

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