quinta-feira, dezembro 01, 2005

Tapa

Paf! estalou a minha mão espalmada bem no meio daquela fuça branca que eu já tanto beijei, um tapa ardente, seco, comprido porque ele ainda ficou uns segundos com o rosto virado, estarrecido, bobo.

Um tapa gostoso, o melhor da minha vida porque ele já merecia há tanto tempo, eu que fui empurrando, amando ele, perdoando tudo, eu que fui deixando a surra, mas ontem chegou, chegou a hora de estralar o chicote naquele lombo branco que eu tanto amei, e foi o melhor estralar porque ele se portou como verdadeiro cafajeste, daqueles: em pele de cordeiro.

Porque, depois de na última semana voltar a jurar amor eterno - que vai ficar tudo bem, que me ama mais que tudo, que não pode viver sem mim, que quer seguir junto - depois de dormir comigo quase a semana toda, frágil, me usando a energia, bebendo da minha força, sorvendo tudo de bom que eu tenho e que (sei) dedico a ele a hora que ele quiser, depois de me sugar o sangue, depois de passar a noite toda comigo, cinema, pipoca, carinho, dormir agarradinho, ele acorda de um pulo quando saio atrasada para viajar, e solta a frase que não teve culhão pra dizer antes (ai! que estrago fazem os covardes, os frouxos):

- Semana que vem vou receber uma visita na minha casa. A espanhola.

A espanhola. Ele a convidou para deitar no nosso futon, que compramos juntos, talvez morder o travesseiro que acabo de lhe presentear, dormir na casa onde pintamos, juntos, cada cantinho, onde compranmos juntos todos os móveis, onde construímos um fim de sonho do que seria o nosso amor.

Amor que eu vi, ali, como papel rasgado sendo atirado no lixo , na sádica decisão de levar a mina para a nossa casa, na sádica decisão de me contar depois de dormir comigo, na sádica decisão de jogar pela janela tudo com a maior cara de santo, ah não, ele não faz por má intenção...

Acabou neném. Morreu mais um. Estalou o chicote, o tapa gostoso, Paf! na cara branca e agelical. Agora, não dou nem um segundo do meu olhar, nem um segundo da minha força. Não te seguro a mão. Cai sozinho. E não me apareça na frente. Que dou outro.

2 Comments:

Blogger malvinas said...

snif, snif... triste pra caralho, malvina. triste triste triste, senti até um pouqinho do ódio que vc deve estar sentindo. filha da puta! gringo broxa! tá tudo bem com você? vou te telefonar...

4:16 PM  
Blogger malvinas said...

Malvina, minha flor! Que orgulho do seu tapa!!!! Você deveria ter dado esse tapa há muito tempo, porque você merece alguém muito melhor: que te leve as alturas e com amor, con lémon!!!

12:57 AM  

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