segunda-feira, setembro 19, 2005

trabalho, hip hop, msn, café, cigarro, tem uma espinhazinha no meu queixo que não consigo parar de mexer. saco, bode, por que sempre escrevo nesse blog enquanto estou trabalhando? tipo recreio. é um porre quando o trabalho fica só no automático e você com preguiça de criar algum negócio. tipo uma idéia nova. ou botar em prática aquela idéia bacana e trabalhosa que está na gaveta há meses. me sinto culpada e paralisada, é foda, detesto esses dias.
descontei minha raiva dos homens num pobre coitado ontem à noite. não que ele não seja um mala - ele é - mas, putz, depois me senti meio culpada. ele cutucou a onça com vara curta e tomou na cara. foda. puta cara chato, também. conheço ele há uns cinco anos, quando eu ainda era uma fresca gatinha de dezesseis, e desde a primeira vez o cara noiou na minha pessoa. foram anos de chaveco. anos. todas as vezes que ele me encontrava (e durante um tempo isso acontecia muito, afinal ele trabalhava na balada que eu ia no mínimo uma vez por semana), era aquele chaveco. foi de declaração de amor eterno à cantada de caminhoneiro, passando por conselho de amigo e chororô de carente. e ele até é um cara bacana. quer dizer, seria, se não fosse esse problema da insistência. aí passamos uma fase em quase não nos encontrávamos, porque ele parou de trabalhar na tal balada, e eu também parei de frequentá-la. de vez em quando, um encontrozinho ocasional, sempre com o maldito chaveco. só que depois que ficamos mais velhos, a coisa foi virando, ao meu ver, uma tiração de sarro. porque não é possível que o cara não desista, não se sinta ridículo. só pode estar tirando uma da minha cara, pô. eu acho isso uma puta folga masculina, sabe? até pra chavecar e elogiar tem que ter um limite, meu. eu me sinto invadida, me sinto desdenhada, porra, o cara não tem vergonha de continuar tentando? então é porque ele não tá nem aí pra o que eu penso! pra ele, foda-se se ele está sendo um mala, um folgado, ele não se importa com a minha opinião, o desejo dele é mais forte. eu sou só uma mulher, afinal, ele vai insistir o quanto quiser, porque acha que no fim ele vai acabar conseguindo. ou não. mas não se importa a mínima se está enchendo o meu saco. aí me irritei. ele foi atrás de mim na hora que eu fui embora, e eu mandei ele à merda, fui o mais grossa possível. mas puta que o pariu, sabe qual foi a última frase dele, quando eu já atravessava a rua sem olhar pra trás? "agora era a hora de eu te dar uns beijos!". sem comentários. respeito zero.
aí fico pensando, sabe? que imagem os homens ainda tem de mulher hoje em dia? porra, esse cara não é nenhum idiota, está ali pela casa dos 25, estudante de economia (se pá já é formado), produtor cultural, tem amigos bacanas, gosta de boas bandas, frequenta a Bienal (o encontrei na última), é um cara esclarecido, porra. tipo elite intelectual. e ainda se sente no direito de atormentar uma mulher que já lhe deu cinco milhões de foras, sem a mínima vergonha na cara? sem se sentir ridículo, sem pensar no quanto está enchendo o saco alheio? porra, mulher não faz essas coisas. que nem cantada na rua. mulher não fica chamando homem de gostoso pela rua. não fica parada em turmas gigantes na calçada e quando passa um homem olham todas ao mesmo tempo fixamente, pro coitado não saber onde enfiar a cara. e isso acontece com a gente o tempo todo. é desrespeito, sabe? desrespeito com a pessoa humana. que nem você estar andando nessas multidões de balada e os caras pegarem no seu braço, te segurarem, meu, isso é um desrespeito. eu fico muito puta. pior que se você falar que vai fazer o mesmo, os caras vão dizer que vão adorar. mas só porque não acontece. queria ver se fosse normal, se fosse a mulherada que ficasse agarrando os caras contra a vontade deles toda hora, que ficasse berrando "pauzudo" no ponto de ônibus. eles iam achar uma merda. porque é constrangimento público, é desrespeito à liberdade alheia, e todo mundo acha que é normal. mas não é, porra. eu sou um ser humano, e minhas vontades e minha liberdade têm de ser respeitadas. não é assim que é o certo?
o machismo ainda é muito, mulherada. porque por mais que a gente vá pro bar e beba pra caralho e não esteja nem aí com a hora do brasil, que nem eles, sempre tem um tiozinho no canto achando que a gente é tudo vagabunda. ou pior: tem um boyzinho do mackenzie falando que mulher que fala palavrão (igualzinho a ele) é tudo escrota e vadia. porque ainda temos que assumir um naipe "fama de putona" pra se defender do que as pessoas pensam - tipo "já que não pode vencê-los, junte-se a eles". e eu não sou putona nada. muito pelo contrário, sou romântica no úrrrtimo, só acho que um beijo não é nada tão importante assim. que é gostoso, e não tem problema nenhum em beijar um amigo se for uma coisa tranquila pros dois. ou um desconhecido se rolar um clima e você estiver curtindo a balada na lôca (ou em qualquer lugar). mas pra poder ser assim sem viver sufocada pela pressão de fofocas e comentários maldosos, pra poder beber a minha breja, fumar meu baseado, tomar uma droguinha de vez em quando, ter opinião própria, rir e falar alto, beijar quem me dá na telha, tenho que fazer ligar o foda-se e ficar fazendo um naipe de "sou mais eu" o tempo todo. e foda-se quem não gosta. só pra fazer exatamente o que todos os meus amigos moleques fazem, e na maioria dos caso ainda numa escala bem menor. aí todo mundo acha que sou devassa, coração de pedra, que não tenho sentimentos e não estou nem aí pra nada. a durona. a superior. porque mulher é tudo meiguinha, calminha, quietinha, sensívelzinha... as que não são é porque são punks doidonas, que não tão nem aí pra porra nenhuma. e a realidade é tão diferente disso...
talvez esteja um pouco extremada essa minha descrição. talvez vocês digam que os amigos de vocês não pensam assim. ok, nem tanto. não numa escala tão grande. mas porque eles são seus amigos, né? eles são bacanas, afinal. e mesmo assim tem um fundinho lá no fundo deles que pensa assim, sim. uns mais, uns menos. mas é foda. pra mim qualquer resquício disso é foda. irrita e machuca.