quinta-feira, novembro 03, 2005

é a sua indifereeença que me maaaata...

eu queria estar de bom humor pra contar pra vocês, divertida e em detalhes, como fiquei com um amigo que está indo embora de são paulo e acabei dando pra ele no banheiro da lavanderia do apê do vizinho do meu amigo, que por sua vez é cunhado do meu ex-namorado. juro que eu queria. juro que não queria colocar mais um texto-depressão nesse blog. mas acho que não vai dar.

porque tá: era véspera de feriado. eu estava bêbada. meu amigo vai embora, e temos uma história longa e confusa, que merecia um grand finale. mas no fim nada disso foi o motivo para o que aconteceu. um tanto de "falta" mesmo, mais um tanto de carência (que, enfim, nunca seria suprida com isso), um tanto de tocar o foda-se comigo mesma, um tanto de vontade de fazer meu amigo feliz (ai, ele gostou tanto de mim, por tanto tempo...), um tanto de vontade de ser sacana, um tanto de vontade de ser insensível, de agir como homem, de ter coração de pedra que eu sempre acho que não tenho. de ver a mim mesma saindo da lavanderia um pouco mole, e bem menos bêbada, e a festa já ter acabado, e sentar no sofá, acender um cigarro e dar muita risada e agir muito mais naturalmente do que ele, que provavelmente ainda estava tentando entender o que tinha acontecido(o quanto eu torturei esse cara não querendo dar pra ele...). e depois ainda dei carona pra ele até o ponto de ônibus, do ônibus que nunca ia passar, é óbvio. e dei graças a deus por ser mulher, porque se eu fosse homem ainda ia ter que levar a mala em casa - afinal eu mesma não aceito que não me levem em casa: "vai levar e pronto. dei pra você e é o mínimo que você pode fazer". mas como sou mulher, embora nessa noite os papéis tenham sido tão trocados, não tenho essa obrigação, e pude largar o cara no meio da rua e ir pra minha casa dormir em paz, sem mais pensar nele.

e assim permaneci. no dia seguinte assisti a um filme em que o personagem principal tinha o mesmo nome do meu amigo. e tinha até alguma semelhança com ele. eu só fui lembrar disso no final do filme. imagino se ele tivesse o nome do outro, aquele mesmo, a criatura que me fez tão triste assim... desde o primeiro minuto pensaria nele, e até o final do filme, assim como às vezes penso mesmo sem nome igual nem nada. e olha: foi muito bom, viu? não é por ter sido ruim, não. foi melhor do que todas as outras vezes que ficamos. talvez a sensação de poder que me dominava, mesmo sem cocaína, tenha feito ser tão bom. mas simplesmente acabou, foi um momento que durou enquanto durou, e que não ficou vindo me perseguir depois, nem para o bem, nem para o mal. não, eu não suspirei nem uma vez. nem pensei "pô, de repente... até dava certo, hein?". não. e se eu fico um tiquinho triste que ele vai embora, é mais pela amizade mesmo, por fumar um depois da aula, ou tomar uma cervejinha. e um tiquinho um pouco maior por perder um admirador fixo e estável, sempre disponível. mas é só.

não sei o que ele sentiu. nossa história acabou faz tempo. ele gostou muito de mim numa certa época, mas na verdade creio que se apaixonou mais por estar apaixonado do que por mim. mas era clara a surpresa dele, a falta de chão pra entender o que tinha acontecido. se fosse uma mulher, se fosse eu, podia jurar de pés juntos que ela estaria pensando em mim agora. estaria até muito mais triste de ir embora. e eu aqui, nem aí, ainda com um resto de amor e um tantão de mágoa por outro, e mesmo fora isso, totalmente indiferente. não sei se é isso que ele sente. mas agora entendo melhor os homens de quem gostei, os homens que tive ótimas noites e depois me surpreendi pela indiferença deles. uma ótima noite é só uma noite. e nem foi a minha noite por inteiro. teve outras coisas na balada. ele não foi a minha balada, nem isso. e no máximo sinto um vazio, mas que pouco tem a ver com ele.

fiquei triste, sabe? fiquei triste porque entendi muita coisa. coisas que aconteceram comigo na minha vida, castelos de areia tão frágeis na realidade e tão sólidos na minha cabeça, e que tanto me fizeram (fazem?) sofrer. a vida é isso aí. e, gente: com milhões de pessoas no mundo, tem mesmo de ser uma coincidência muito incrível para que duas pessoas se apaixonem uma pela outra, ao mesmo tempo. é muito fácil se apaixonar por alguém. mas com todas as outras pessoas do mundo, querer que aquela pessoa também se apaixone por você... é muito difícil. é muita coincidência. mesmo que as noites lhe pareçam inesquecíveis. uma noite é só uma noite, e várias noites são só várias noites, por melhores que sejam. ai...