eu te amo não é bom dia

tá, é uma frase clichê de comunidade do orkut e blog de adolescente. e eu mesma sempre tive uma vaga implicância com ela, como se fosse coisa de gente recalcada, mulher burra que acredita em cafajeste o tempo todo, ou qualquer outra etiqueta que minha cabeça colocou nela sem me explicar direito. mas o fato é que ela tem uma grande dose de verdade: esse negócio de 'eu te amo' é foda.

é foda porque dá um peso pra coisas que poderiam ser leves. vcs já devem ter lido um texto da clarice que chama "por não estarem distraídos" (se não, tem aqui). é bem isso. você está lá numa boa, conhecendo uma pessoa, trepando legal, tomando uma cerveja e conversando sobre cinema. um belo dia - em geral uma noite - pá! vem o tal do "eu te amo". aí, bom: vc fica lisonjeada, é claro. aí vc disfarça, beija, e não responde nada, porque afinal de contas pra vc parece um pouco pesada a história, assim, de repente.

mas o negócio fica ali na sua cabeça, é claro. porque você é mulher. por causa do seu coração, como o do cazuza, antiquado e careta, que no fundo de uma gaveta sempre guarda a imagem de um vestido de noiva e cortinas de babados nas janelas, mesmo que vc tenha certeza absoluta que nunca na sua vida isso vai de fato se concretizar. e aí você começa a dar um peso maior do que deveria, ou do que pretendia, pra história. não que ela não fosse importante; mas depois do "eu te amo" ela muda de categoria. e, naturalmente, o "eu te amo" nunca é dito apenas uma vez. ele vai ser repetido, mesmo que muito de vez em quando, mesmo que às 4h da manhã bem baixo e quando você já não sabe mais se está dormindo ou acordada. e numa dessas (ai!) você também vai falar: EU TE AMO.

só que aí você vai vendo que a coisa não é bem assim. que você continua gostando da pessoa, e ela de você, mas que isso é diferente de planejar uma vida juntos, de achar (mesmo que por um momento, mesmo que por um mês ou por dez anos) que você encontrou um parceiro de vida. isso sim combina com "eu te amo", mas você sabe que isso não acontece a todo momento. e que não há nenhum - nenhum mesmo! - problema nisso. você se dá conta de que o único problema foi a droga do "eu te amo". porque aí não dá mais pra voltar atrás. e que quando a pessoa fizer qualquer coisa que não seja condizente com o tal do "amo", por mais normal que seja a atitude, você vai se magoar. vai cortar seu coração com algo que nunca (nunca!) deveria ter sido nem mesmo motivo da mais leve preocupação ou surpresa. mas dá pra voltar atrás? não dá.

por isso, sou obrigada a concordar: eu te amo não é bom dia. não digam "eu te amo", a não ser que estejam dipostos a suportar o peso que ele traz. que pode até ser uma delícia de carregar! mas que, quando não é, machuca e turva o que poderia ser só leveza e diversão.

snif.