terça-feira, setembro 30, 2008

Ódio de amor

Eu não te quero mais. Não quero um pingo do seu desamor, do seu medo de amor. Saia daqui com o seu desafeto! Saia daqui com a sua falta de interesse por mim! Eu quero o mínimo. Eu não quero te entender, eu não quero passar a vida inteira tentando entender como alguém gosta sem ligar, como alguém gosta sem encontrar, como alguém gosta sem planejar... Saia daqui e leve embora essa sua aparência de uma pessoa simpática e amável! Saia daqui com o seu pseudo amor! Pra mim basta de migalhas de não amor, de não encontros, de esperas, de falta! Eu quero com! Eu quero dividir, planejar. Quero as mãos dadas e a vida pela frente. Sozinha eu já sei caminhar. Não basta a sua tristeza. Eu quero ver a sua agonia! Eu gostaria que você implorasse, que você rastejasse! Mas você, com o seu desamor, nunca saberá fazer isso! Nunca!! Por que não???? Porque você não sabe amar. E por não saber amar, não me terá de volta. Você até sabe fingir que somos casados. Você sabe mentir muito bem que a gente se dá bem. Ahhhh, da mesma maneira que fingi estar bem!!! Tola que eu fui!! Juntando cacos e cacos do meu coração toda vez que você o destruía e dizia que eu exagerava. Você dizia que iria mudar... Tola. Que tola que eu fui! Agora eu espero que você sofra, que você agonize, que você se humilhe pra você mesmo quando perceber sua incapacidade de amar. E que você me conte, tolo, que nunca soube amar. Eu espero um dia ouvir de você que você é incapaz de amar. E não tente fingir. Não tente mostrar que você está feliz, que a vida anda pra você. Eu sei do seu problema! Você nem sequer sabe conversar, imerso no seu desamor, no seu mau humor. No seu egoísmo de magoar todos que lhe cruzam o caminho. Vá e seja infeliz! Que quando a minha mágoa passar, quando eu conseguir juntar todos os pedacinhos do meu coração que você estraçalhou, eu vou ser feliz. Ah, se vou! E você?

segunda-feira, setembro 22, 2008

Dos diálogos desnecessários...
(passados mais ou menos uns dois anos e meio da separação)

Ex: tá aí?

malvina: sim

Ex: bom, aproveitando o "tema", e já que temos que falar dessas coisas, tenho que perguntar você ainda tem algo contra a fulana (que foi a outra por quem ele largou a mim e ao nosso filho)? É na boa que tô perguntando... e nem sei se é legal falar disso por aqui porque a gente não se entende... (ele manda um link para o blog dele, onde tem uma foto dela sentada em um banco de um parque. É muito magra e tem uma cabeça enorme, eu penso de cara. Além disso não tem um pingo de estilo).

malvina: nada.

E uns três minutos depois

malvina: ela me fez um favor né ex? vc n gostava mais de mim, n queria estar casado comigo e então ela apareceu, vcs se apaixonaram e resolveu-se o problema!

Malvina: vocês estão bem, eu estou bem, tenho uma pessoa que me ama muito, que quer casar comigo na igreja, quer ser minha familia... então é isso...
agora o que importa é o pequeno ficar bem. Não foi o que eu sonhei pra mim, nem o que sonhei pra ele, mas é o que temos por hoje.

E fim.

domingo, setembro 21, 2008

Reconstrução

... "perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi.E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com as duas pernas é que posso caminhar.Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa incontável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar"...
Paixão segundo G.H., Clarice Lispector.

O bolo

Cena 1 - A mocinha quer agradar o marido e decide fazer um bolo pra ele. Pensa numa receita deliciosa e sai para comprar os ingredientes. Na volta, capricha na receita e coloca o bolo no forno. Enquanto o bolo fica assando, ela arruma a cozinha, vai para o banho, veste uma roupa de domingo, tira o bolo do forno, coloca num prato bem bonito e fica esperando o marido. O marido chega e sente o cheiro do bolo: "Hummm, que delícia. Você fez um bolo meu amor?", pergunta. Ele dá um beijinho na esposa, que sorri pra ele. "Posso provar?", diz ele. Ela diz que sim e corre pra pegar um pedaço pra ele. Quando ele prova o doce, diz: "Hummm, que bolo delicioso, nunca comi uma coisa igual". Abraça a mulher e lhe dá um beijo. Contente, ela diz que adora cozinhar para ele e que fará uma receita diferente e deliciosa na semana que vem.
.
Cena 2 - A vizinha, inspirada na história contada pela amiga, decide agradar o marido usando a mesma receita. Então sai para comprar os ingredientes. Na volta, capricha na receita e coloca o bolo no forno. Enquanto o bolo fica assando, ela arruma a cozinha, vai para o banho, veste uma roupa de domingo, tira o bolo do forno, coloca num prato bem bonito e fica esperando o marido. O marido chega e olha o bolo. Dá um beijo na esposa e vai pra sala. A esposa, um pouco receosa, pergunta: "amor, você quer provar o bolo?" E ele responde: "Aham". A esposa dá um pedaço do bolo pro marido, que liga a televisão. A mulher, já angustiada, pergunta: "e aí amor? Gostou do bolo?". E ele: "do bolo? Tava bom sim". A mulher sai de cena.
.
.
.
A peça acaba e o avô conclui: não disse minha filha, que a falta de carinho pode destruir um casamento?
.
É de se pensar.

quinta-feira, setembro 18, 2008

CURTAS DA BANALIDADE DA VIDA

do trabalho

seis horas da manhã, travessa da heitor penteado. dirijo sonada em direção à produtora. como profissional responsável que sou, chegarei meia hora antes da equipe pra garantir que está tudo certo. como maconheira véia que sou, lembro que esqueci de pedir três-tabelas e de checar se o kit de luz vem completo, com as prolongas, a porra da caçapa piau, etc etc... enfim: uns acessórios de nomes estranhos mas que não passam de coisas que os seres humanos normais chamam de tomadas e extensões, ou ainda algumas outras coisas que sei pedir pelo nome, mas que não sei o que são - mas que sei que o eletricista (ou, pior, o fotógrafo) irá me xingar se não estiverem lá. me desespero momentaneamente e disco o número da locadora de equipamentos. tudo ok. respiro aliviada. minha reputação profissional está a salvo por meia dúzia de cabos e dois caixotes de madeira.

estou distraída ainda pensando em acessórios de luz, olhando pra fora da janela com o carro parado num farol vermelho e vazio. sem perceber, estava observando um gari que trabalha varrendo a calçada. ele me desperta do transe:

- essa aqui não dá não!

- oi?

- a vassoura. olha só! - ele mostra a vassoura careca, rindo - não dá pra trabalhar asim não!

- nossa, é verdade.

- o fiscal disse que vai trazer outra ainda hoje. mas vai saber né? ruim é ter que depender dos outros pra poder trabalhar.

ruim mesmo é depender de objetos que os outros nos provém, eu penso.

- pois é. também acho.

- dá não, fia! ó, o farol abriu! tchau!

- tchau.



do amor

nove horas da manhã, meu despertador toca. aproveitei o dia calmo pra acordar mais tarde, mas ainda com tempo de dar uma enrolada na cama com meu namorado, aquela trepadinha básica da manhã e os carinhos todos de quem dorme agarradinho no frio. delícia. mas ele está de costas pra mim. sei que acordou com o despertador também e tento fazê-lo virar. nada. ele me ignora. insisto um pouco.

- hmm gata, me deixa dormir mais um pouco. - e continua de costas.

fico decepcionada e irritada. depois triste. ele não gosta mais de mim. estou gorda. ele não me quer mais. por que fui comer antes de dormir? é por essas que ele não tem mais tesão. malvina, a baleia assassina.

- hmm, hmm - ele resmunga - tive uns sonhos estranhos...

- que foi?

- ... - e continua de costas.

- conta.

ele vira e me abraça:

- sonhei que eu estava gravando um carro de fórmula 1 e quando eu voltei você estava de biquininho, toda gostosa, se esfregando nos mecânicos. e eu ficava louco de ciúme e você não parava. e no final do sonho eu te matei.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Das coisas que eu gostaria de ter feito

De volta à Barcelona, a simpática colombiana que eu conhecera da última vez nos convidou - a mim e ao meu namorado, que ficara por lá - para um jantar. Fomos nós três, e mais uma amiga dela. Entre piadinhas e risadas, percebi que ela estava agindo diferente comigo, algo sutil, mas perceptível. Uma certa simpatia forçada, que não estava lá antes, tomava o lugar da antiga naturalidade que nos unia.
Refleti um pouco e matei a charada. Ela trepou com meu namorado enquanto eu estava fora. Continuei jogando o jogo, até a hora da sobremesa.
Então, enchi meu copo de vinho tinto, levantei-me como para fazer um brinde e falei: no meu país, quando a gente dá para o namorado da amiga, não leva o casal para jantar depois com esse sorriso hipócrita e nojento. Joguei o vinho na cara dela, que escorreu sobre o vestido branco (não saiu mais, que pena), disse boa sobremesa e fui embora. Ele veio atrás de mim.