quarta-feira, junho 28, 2006

porquê toda mulher é chata (porquê toda mulher é doce)

fico de tpm e deprimida. mas será que estou deprimida por causa da tpm? não, não: besteira. não pode ser uma simples alteração de hormônios. afinal a minha vida não está legal. será que não, mesmo? pensando bem, tem algumas coisas dando certo... então é só tpm. não: tá tudo uma merda mesmo. eu sou uma merda. uma merda que está sempre deprimida. uma louca, que está sempre confusa. imagina, eu sou bacana. olha quanta gente gosta de mim. quanta gente? dá pra contar nos dedos. e a maioria gosta incondicionalmente, porque têm pessoas boas no mundo, que gostam mesmo quando a gente é uma merda. não, mas eu não sou uma merda. têm pessoas que se interessam por mim. quem? ninguém se interessa por mim. sou gorda e escrota. imagina: vou pra balada e os caras me olham. tem um menino a fim de mim, sem coragem de me chavecar porque não dou mole. e ele é um bebê, mas tão bonitinho... não pira, malvina: ele não está a fim de você. viagem dessa sua cabeça louca. tá, têm pessoas que se apaixonam por mim. se apaixonam mesmo? e o amor, a gente não se apaixona por umas pessoas que são uma merda? amor não conta. mas e se me apaixono também? então a pessoa legal por quem me apaixonei também me acha legal e se apaixona. mas amor não conta. a gente fica cego. fico apaixonada e eufórica. e logo depois deprimida. não gosto de me sentir dependente de um sentimento, meu ou alheio. mas, que é isso, amor é uma delícia. uma delícia nada, depois vira uma merda. namoro é neurose. namoro é ficar de mãos dadas no sábado à tarde. namoro é gostoso. namoro é neurose. fico de tpm e apaixonada. fico eufórica e deprimida. não quero dar mole pro menino-bebê, mas quero que ele esteja a fim de mim. não me importo a mínima se ele está a fim de mim. não me interesso por ele. vai dar tudo errado. vai dar tudo certo. fico de tpm e a menstruação não desce. não é tpm, é só depressão. não é amor, é só euforia. não é depressão, é tpm. é uma merda. vai dar tudo certo. vai dar tudo errado.

quinta-feira, junho 22, 2006

O pecado mora ao lado

Ele fala manso. Tem um metro e oitenta e tralalá, uma barba grande e bonita, camisas sempre de muito bom gosto, um cheiro de macho e um jeito de falar "Malviiiina, Malviiina" toda vez que eu vou pegar um papel na impressora que me dá calafrios. Quando estamos conversando, ele vai falando cada vez mais perto, cada vez mais devagar, com um olhar profundo de fazer enlouquecer... Quando surge uma situação para um abraço, o que é raro mas acontece, esse abraço é longo, querendo sentir todo o corpo.
Quando a carência é quase mortal - eu devo ser ninfomaníaca: estou há três semanas sem sexo e estou a beira de um ataque de nervos - eu fico olhando ele de longe. Conto os dias pra essa merda de Copa acabar só pra ele voltar a sentar pertinho. Só pra ouvir "Malviiiina, Malviiina", toda vez que vou pegar uma folha na impressora. Às vezes ele não fala, só levanta a cabeça, e me dá um sorriso malicioso com aquela boca que já diz tudo, mesmo não dizendo nada. (Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer...)
É o típico homem de trinta anos, de cabelo pouco, barriga que denuncia a cerveja das suas longas noites boêmias pela vida e a sua cadeira cativa no bar. Delícia é vê-lo trabalhar quando pega uma folha, com a caneta na mão e faz cara de cabeça pensante. E é bom jantar com ele quando é o único homem no meio de muita mulher. É bom vê-lo feliz e é bom dar risada de suas histórias. Sempre muito galanteador.
Mas, além dele ser do trabalho, de já ter destruido o coração de muitas mulheres porque não quer se envolver e além de ser lindo, gostoso, inteligentíssimo e muito engraçado....
Ele Come Puta... E aí, aiai, não dá.

terça-feira, junho 20, 2006

Manifesto Selvagem

Agora, mulheres de todo o mundo!

Vamos arrancar a roupa e rolar na terra molhada; vamos beber da água que corre trazendo folhas e mato despedaçado; vamos cagar no meio das clareiras da floresta; vamos nos limpar com grandes folhas secas; vamos comer carne crua e ainda pingando sangue; vamos dormir ao relento; vamos deixar a pele arrepiar ao vento gelado; vamos tremer de frio; vamos lamber nossas feridas; deixar crescer os pelos; vamos chorar para a lua; vamos deixar correr a menstruação livre entre as pernas; vamos andar de quatro, rastejar, pular os arbustos de espinho; vamos trepar nas árvores; vamos esfregar nossas partes íntimas em trocos fortes todavez que ficarmos excitadas; vamos mergulhar peladas e sentir a água entrar no nosso corpo; vamos comer a terra; vamos lamber os olhos dos nosso amados; vamos gargalhar euforicamente e sem motivo; vamos gritar, vamos esperenar, vamos saltar no rio, no abismo, na janela; vamos suar e feder; vamos transar com os animais; vamos arrotar de prazer; vamos alimentar com o leite no nosso seio o homem da noite; vamos babar e cuspir de tesão; vamos cheiras as pedes pudentas daqueles que amamos; vamos gozar alto; vamos vamos cortar a carne e ver escorrer o sangue; vamos enternecer com as baratas, as aranhas, as formigas, os bichinhos que moram em ninhos de poeira; vamos deixa crescer as unhas para ficarem pretas de terra e húmus; vamos comer poeira; vamos comer sujeira, vamos ser sujeira; vamos nos entregar aos besouros; vamos gritar, vamos correr, vamos fugir, vamos embora.

segunda-feira, junho 19, 2006

socorro

Moças bonitas do meu coração:
me arranquem um sorriso, me arranquem um choro bem soluçado.
Me arranquem a roupa.
Arranquem meus cabelos.
Vamos lá, vocês conseguem.
Me arranquem um texto jesuis!

sexta-feira, junho 16, 2006

Algumas frases que eu não esqueço

"Se tivesse alguma coisa, qualquer coisa, que eu pudesse fazer para você se apaixonar por mim, eu faria."

"Senti saudades de vocês. Passei talvez o pior fim-de-semana da minha vida, mas não vou gastar tão preciosas palavras nisso."

"E se alguém me perguntasse o que pretendo, pois você vai embora daqui a dois meses, eu diria que moraria com você esses dois meses e então, iria viajar com você."

"Eu lá, pelada, fazendo café pra nós, ele no computador, passando a mão na minha bunda quando eu passava, me chamando de gostosa...e escrevendo pra ela."

"Que ele é feio e barrigudo, e eu sou linda, cheirosa e uso calcinha preta."

"Morra trinta e duas vezes seguidas, vai se foder mil e uma vezes, oito mil mulheres com essa porra de olharzinho-de-cachorro-que-quebrou-o-pote"

Lembrei de você: não tem alma, nem coração e nem sente nada

Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar, nem pra rir
Socorro, alguma alma, mesmo que penada
Me entregue suas penas
Já não sinto amor, nem dor, já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate, nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta
Em tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Socorro, alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento, acostamento, encruzilhada
Socorro, eu já não sinto nada, nada

quarta-feira, junho 14, 2006

Desnecessário amor

Vamos começar falando de desamor, que é o sentimento de querer muito que alguma pessoa seja para a sua vida um algo grande e forte, que marque e balance o coração. Depois, pausadamente, vamos enumerar alguns casos de desamores que viraram obsessão; outros que viraram paixão; muitos que viraram casamento por não terem mais nada a fazer; e os que não viraram nada. Daí vamos chegar a ele, aquele homem que sempre é o mais tentador porque está ao lado, é colega de trabalho e tem a pele fresca e macia e não vivida. E para não mergulharmos no devaneio, lembraremos as desatenções, as desdelícias, os desolhares dele, as desconversas sem-graça, os descarinhos e a desatenção com que nos brindou durante todo esse tempo. Vamos percorrer lentamente as razões que levam uma mulher a amar um homem - desde sempre, a sensação de felicidade incontível e a profunda compreensão de que se é livre para fazer o que quiser e que o mundo só existe ali, naquele momento em que estão juntos(isso sem falar nos gozos infinitos, nos gemidos e nas intimidades pequeninas). Finalmente, concordaremos em esquecer todo o castelo que se construiu na nossa imaginação assim que o compraramos ao frágil casebre de madeira que é a realidade da convivência o homem em questão. E descobriremos, não sem alguma decepção ou surpresa, que ele é totalmente desnecessário; e que aquilo tudo, na verdade, nada mais era que um caso clássico de desamor.

e já que estão valendo os devaneios...

o bar de sempre, cara de (precoce) fim de festa às 8 da noite. mas cheio. samba, muito álcool, catarse coletiva chamada copa do mundo. eu, moleque: futebol, samba, cachaça, amigos, maconha e enquadro da polícia, que encarei sozinha, que nem macho - só faltava estar fedendo a suor. e ele chegou. ele, que eu não gosto mais. ele, que acho bobo, infantil, feio, desnecessário: passado. ele, que apesar de tudo isso ainda balança meu coração (seja por desejo, seja por irritação) com o olhar insistente e enigmático, e que me faz - agora, que não mais me mete medo - responder com olhar de quem diz "que que é maluco? fala que eu te escuto! olhar assim não adianta, que não entendo seus melindres". resposta que não tem tréplica: só o mesmo olhar que faz até minhas amigas corarem diante de tal insistência de olhos e ouvidos que prestam atenção às nossas conversas.

mais uma vez não passou disso. mas vou contar a história do que poderia ter sido. como toda a nossa história é a história do amor que poderia ter sido.

ele poderia ter chegado três minutos antes, a tempo de me ver ainda levando sermão dos policiais inexperientes, com blazer preto e muita lábia - "jeito de mafiosa", alguém comentou. então podia ter parado na calçada e assistido, procupada e atentamente, o desfecho da cena. e quando finalmente consegui me desvencilhar da situação, poderia ter se precipitado para a beirada da calçada aliviado e, afoito, me cumprimentado com longo abraço querendo saber o que tinha acontecido. eu teria contado, rindo, e mudaria de assunto rapidamente, como fosse aquela só mais umas das muitas aventuras da minha vida. poderíamos ter voltado ao bar, eu à minha mesa, ele para cumprimentar os muitos amigos. e depois voltaria, com cerveja na mão, para sentar-se ao meu lado, puxando novamente o assunto da polícia. então conversaríamos como em outros tempos, rindo muito e discordando em quase tudo, e uma discussão mais séria por algum assunto da política nacional poderia principiar, mas ambos, no esforço da paz, sorririam cúmplices e deixariam de lado a política, "só por hoje". então a noite passaria, e eu diria querer ir embora, e ele me ofereceria uma carona. eu aceitaria, e ainda no caminho para o carro, surpreendentemente, ele seguraria minha mão e me puxaria pra junto de si; e o beijo seria bom como foi antes, e ainda melhor pela surpresa de revisitar uma história que acabou. então iríamos para a casa de chão amarelo e travesseiro de camomila, tudo amarelo como o nome dele, que é escrito dessa cor na minha memória. e conversaríamos, e dessa vez eu não seria boba de dar respostas sem fazer perguntas, e ele me explicaria tudo, e eu entenderia, e explicaria os olhares, as cenas, todas as coisas pra mim inexplicáveis que aconteceram e acontecem. e pediria desculpas, e exigiria desculpas, e quereria saber de mim. e eu, que estou envolvida em coisas outras, ficaria confusa e surpresa, e falaria, e desconversaria. e provavelmente - aí sim - conseguiria esquecê-lo para sempre, como bem cabe a uma história que nunca foi o que poderia ter sido.

O tamanho da dor é o tamanho do amor

"Foi como um silêncio que grita"...
E foi o fim porque não existia amor.
Desta vez, eu não estou de cama, eu não acho que o mundo vai acabar, muito menos que eu não acharei ninguém que nem ele, afinal, alguém ímpar eu sei onde está. E outros virão e a vida continua. Mas, voltarei para a cachoeira, para, de novo, recomeçar. De novo, começo um novo recomeço, mas, dessa vez sem dor. Com saudade sim, mas, sem dor. Nada em mim dói. Não existem sintomas físicos.
Peço apenas desculpas para quem acreditou em textos falsos escritos aqui, falando de amor. Esse sentimento eu ainda não descobri. E peço desculpas também para quem acreditou que éramos um casal feliz. O casal feliz é aquele que está feliz. Ele não é feliz e eu não estava feliz. E eu quero ser feliz, quero dar risada, quero me sentir apaixonada, quero poder falar que amo, que adoro, que admiro, que piro no cheiro, no abraço e, principalmente, "que piro ao ouví-lo falar"... Aiai (...) paixão. Paixão é a minha gasolina. Paixão pela vida, pelo sol. Pelos dias de samba com cerveja e uma idéia de um mundo melhor. E ai, querer gritar pra todo mundo: "tá vendo aquele cara alí? É ele o homem que eu amo!" E só.

quarta-feira, junho 07, 2006

O menino que eu ganhei com uma crase

Desde muito cedo despertou-se em mim essa paixão pela gramática, muito ao contrário da maioria das crianças da minha sala. Tinha verdadeira delícia em aprender cada regra, cada lei que não podia ser ferida, ao custo de estragar o entendimento verdadeiro do que se queria dizer. Ainda hoje sei de cor: as oxítonas são acentuadas quando terminadas em a, e, o, em, seguidas ou não de s; as paroxítonas, quando terminadas em l, u, i, s, r, x, n, seguidas ou não de s; as proparoxítonas – a maior vanglória de qualquer aficcionado como eu – são todas acentuadas. Por um tempo tive vergonha, mas minha pequena tara era tão satisfatória comparada à daqueles que entendiam como ninguém as leis da física, que comecei a admiti-la e gostar dela.

Foi mais ou menos com essa delícia que respondi ao menino novo: não, não tem crase. Ele insistiu: tem crase. Não, se não há artigo feminino, não há, disse. Ele insistiu. Quer apostar, perguntei. Ele quis. Apostou tudo. Tudo, tudo mesmo, garantiu.

E a verdade é que eu já me deliciava das suas pequenas belezas havia muitos meses. Mais novo, ainda verde, mas de pequenas sutilezas que me deixava maravilhada; um dar de ombros, um franzir de testa e uma careta quando não sabia o que dizer (ele, que sempre achava saber de tudo). Com os dias, fui aprendendo a me deliciar mais da sua presença, uma presença forte embora jovem, embora carregada da soberba própria dos meninos novos. E que sabia – ai, quantas amigas me avisaram! – da sua delícia. Como sou o que sou (frívola?), uma Casanova por natureza, não poupei-lhe esforços: agrados, ajudas, atenção. Mimei-o, mimei-o demais, depois admiti. A um como ele, não se trata assim (advertiram-me), mas com sutil desinteresse. Que é coisa que eu não sei fingir. Dou-me, como vocês já sabem. Mas nesses vai-vens, acabei me desinteressando pelas suas frágeis recusas, recheadas daquele mover de braços que denunciavam o mesmo desejo (diferente, talvez, mais moço, mas imediato, mais bobo), mas sem nunca satisfazê-lo. Recusou-me diversas vezes. E foram meses passando.

E eis que me chega a crase, a maravilhosa, sempre polêmica, que me gratifica com a agradável oferta: tudo. Pedi uma cerveja, para começar. Marcamos data, hora e pretexto. Já está na hora já, ele observou.

Levantei-me cedo, vesti a roupa mais aprumada. Uma que não denunciasse a minha alma de menina louca louca louca de querer bem (roubei do Chico que canta na vitrola essa, desculpem-me). Passei o dia enterrada em afazeres, desejos doutra ordem a que me entrego com igual ardor, porque são desejos e ponto.

E na hora marcada ali estava ele. Vestira sua camisa mais nova (não tinha muitas), que gentilmente combinava com a calça. Penteara o cabelo para me presentear; e não mediu palavras, não sufocou os gestos. Veio com agrados, veio dizendo que já fazia tempo, veio dizendo que me queria. Me abraçou forte como outras vezes, mas desta vez sem brincadeira: desejo de gente grande.

Fomos a um bar que eu conheço de outras histórias. Levei-o, paguei as cervejas (embora tivesse me prometido que pagaria – sabia ele que o prêmio era outro) e fomos levando o papo alegre da pessoa leve que ele sabe ser quando deixa na rua a vaidade. Falou-me da sua terra natal, onde também viveram meus antepassados e onde ainda hoje se criam sacis; falou-me da viola que se toca como quem chora; falou-me da primeira vez que andou de avião, como quem pela primeira vez desprende-se do chão a saber que a vida anda também pelos ares; falou das incertezas da profissão que o escolhera; e das mulheres que já beijou (sem nunca ter broxado, propagandeou). Fomos nos deixando envolver. Ao som do samba que trazia notícias de velhos amores cansados, e da promessa de novos desejos que virão.

Tarde da noite, levantei-me escorando nos seus ombros largos (como outras vezes). Finalmente, não resisti. Agarrei-lhe o rosto e lasquei o beijo que há tanto tempo tinha guardado para ele – molhado, infantil, desejoso. Ele gostou; propôs que eu o levasse para casa. De bom grado paguei o táxi. E chegamos, já as mãos procurando por todo corpo – e nem pude me desculpar com o taxista. Senti de novo o que é um desejo juvenil, estreante. A vontade de saber como é aquilo também me tomou. Fomos direto para o quarto. Dali, me lembro apenas de sensações que pouco posso descrever.

Sei que foi rápido, e foram muitas. Sei que quando descobri o seu corpo vi-o como imaginava, forte embora ainda envergonhado. Guardava ali um cheiro e um sabor insuspeitados – de menino que seria um grande homem na vida. Dispensável dizer que seu pau era grande, enorme, e duríssimo. Lambi, mordi, machuquei cada parte do seu corpo. E ele pediu clemência, resmungou, virou-se de lado; então eu lhe lambi o ouvido, pedi que voltasse. Ele voltou, gozou, gozou tantas vezes que nem me lembro, só sinto agora na boca o seu gosto ainda. Adocicado e de pouco sal, diferente do que eu imaginava. De uma doçura que jamais pensei, como o revirar de olhos e o sorriso meigo que estampava ao gozar.

A primeira vez fizemos em silêncio, apenas uns gemidos sufocados na vergonha de comer um colega de trabalho de tanto tempo. Depois fomos nos deixando, falamos cruezas, falamos baixarias, quase sussurramos juras de amor. A manhã nos flagrou ainda na cama, ainda em movimento. E nos devorou. Cedo tínhamos que trabalhar, nos encarar de roupas e seriamente no mesmo escritório de sempre. Rimos muitos disso. E decidimos tomar café ainda pelados, ouvindo o catarolar dos homens que trabalham ao lado de casa.

Uma pena, menino novo; não me ligaste, não deixaste que o sonho se tornasse algo de palpável. Nem pagou a dívida. Resta a lembrança do futuro que não virá.


E saber o que é o desejo, de onde ele vem? Fui até o centro da terra, é mais além. Procurei uma saída, o querer não tem, estava ficando louca louca louca de querer bem! E chegar até o limite de uma paixão baldia, no oceano, com a minha mão. Encontrar o sal da vida, e a solidão esgotar o apetite, todo o apetite do coração...