sexta-feira, março 31, 2006

E se?

E se eu acordar e não quiser mais ser eu? E se, só hoje, eu quiser brincar de ser uma mulher que adora levantar a saia e enrolar os cabelos nos dedos sem parar? E se eu quiser entrar no carro daquele taxista e dizer: me leva para o Astúrias. Com você. Isso, e se eu quiser ser a estrela de uma chanchada cheia de diálogos péssimos? E se eu não quiser nada disso? E se quiser ouvir todos os CDs do Bob Marley no último volume com as janelas escancaradas e o cabelo solto? E se eu quiser enrolar 122 brigadeiros, passar cada um no granulado e comer com aquele moço que mora ali em frente, aquele da geladeira vermelha? E se eu quiser cantar bem alto no meio da redação e chamar todo mundo de chupa-brocas? E se eu quiser pintar a unha de vermelho, a barriga de verde e as pernas de prateado?

quinta-feira, março 30, 2006

Ontem, confesso, te trai em pensamento.
Só de estar lá, era como se estivesse com ele. Acho estranha esta sensação de sentir tudo vivo, só de estar naquele lugar. Mas o que eu posso fazer se cada metro quadrado guarda um segredo, guarda uma história? É. Aquele lugar tem um passado feliz. As pessoas, que saudade eu senti de cada cheiro...

(continua...)

quarta-feira, março 29, 2006

Agora eu queria apresentar uma música de autoria de Dé, Bebel e Cazuza, chamada "Eu Preciso Dizer que Eu Te Amo". Bebel vai começar a cantar agora: por favor, não façam barulho no ambiente. Muito obrigado.

- Maestro!

- Maestro!

- Vai!

- Vai sapo!

- Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo... que medo!
É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano

- É, eu preciso dizer que eu te amo... tanto!
E até o tempo passa arrastado
Só preu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero ser teu amigo
É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano, é...

- Eu preciso dizer que eu te amo... tanto!
Eu já nem sei se eu tô misturando...

- Ah, eu perco o sono...

- Lembrando em cada riso teu qualquer bandeira...

- Fechando e abrindo a geladeira a noite inteira...

- Ah, é que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano

- É, eu preciso dizer que eu te amo... tanto!

Amanhã ou quem te viu

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava, você era a mais brilhante
E se a gente se cansava, você só seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

O meu samba se marcava na cadência dos seus passos
O meu sono se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade, por favor não dê na vista
Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer

terça-feira, março 28, 2006

Lição do dia

Ou melhor, da noite:

Mesmo sendo bela, gostosa e inteligente,
Nem sempre se consegue uma companhia para uma cerveja gelada.

E tenho dito!

segunda-feira, março 27, 2006

Notícias do confuso mundo do coração da Malvina

Ai, suspiro! Quando me perguntam como anda meu coração, ai, suspiro! respondo que bem, com medo de dizer a pura verdade, ai suspiro! Que estou apaixonada por:

- Um rapper.
- Um pintor naif.
- Um dramaturgo gringo.

.... sem contar o cenógrafo de sempre.

Ai, suspiro!

sexta-feira, março 24, 2006

Socorro eu fiquei grisalha ontem!

Descobri que estou ficando totalmente grisalha!!!!!

Nunca tinha visto esses fios brancos na minha cabeça e, hoje, eles estavam todos ali, aos montes.... Um do lado do outro, Ó!!!!! Que horror, é a sensação de estar ficando velha, de perder a mocidade, a juventude, Ó!!!! Socorro!!!!!!

Será que foi ontem que eu envelheci?

Ai, esses homens, que nos enlouquecem e nos envelhecem...

zzzzzzzzzzzzzzzz

A Insônia pergunta:
- Por que o passado é sempre mais importante que o presente?
E o Sono responde:
- Que coisa mais estranha, mané!

quinta-feira, março 23, 2006

Corra, Lola, Corra

Na minha casa vai ter um cachorro, na verdade, uma cadela vira-lata preta. E vai ser a mistura de um Rottweiler com um Dálmata. Então ela vai ser gostosa, porque não vai ser nem tão forte como um Rottweiler e nem tão magra como um Dálmata. E vai ser toda preta, mas pra não omitir sua mistura, vai ter uma patinha branca. E vai ser linda, doce e brincalhona...
A minha Lola, ou o meu vira-lata preto, vai ser livre... Nunca vou lhe botar coleira, porque só assim, ela voltará pra casa no dia em que se perder.
E além de saber voltar, ela vai querer voltar porque vai lembrar que é só nessa casa que existe uma das melhores comidas que ela já comeu. E também ela vai lembrar que nessa casa existe muito calor!
Por isso, vou deixa-la livre, vou lhe dar comida, e sempre vou dizer que gosto... Nunca vou esquecer. Nunca lhe deixaria na dúvida, na incerteza. Assim, ela não iria embora... Assim, ela nunca iria querer fugir, iria ficar pra sempre, mas sempre livre. E se ela quisesse fugir, lembraria disso e voltaria...
- Corra, Lola, Corra, porque só assim vai voltar.

Curta

Meu bom colega de trabalho, 40 anos mais velho, tem elogiado muito a minha nova fase, pós "pé na bunda", porque ando mais elegante. Ontem, ele veio:
- Malvina, você anda tão elegante, todo dia!
- Eu descobri uma mulher elegante dentro de mim.
- Ah, você vai descobrir ainda tanta coisa dentro de você...

quarta-feira, março 22, 2006

do Ciúme

uma coisa que eu acho engraçada, estava refletindo outro dia, é a insitituição do ciúme nos relacionamentos. explico: quando você começa a se relacionar com uma pessoa, aquele começo de namoro, aquele amor todo, uma das coisas fundamentais (e mais gostosas) é a cumplicidade, as conversas sobre a vida, sobre os sentimentos, e isso inclui referências a amores passados, a pessoas que te interessam ou interessaram. conforme o tempo vai passando, e a relação se consolidando, se consolida também o ciúme. o ciúme como uma instituição a ser respeitada.

é mais ou menos assim: você não pode desrespeitar o ciúme. é o Ciúme. temos de respeitá-lo. no começo da relação há o ciúme, com letra minúscula, que é forte, dói, machuca; mas a dor é sua, o problema é seu, mesmo que você brigue, se descabele, dê tapa na cara, é um sentimento seu. com o passar do tempo, ele se torna uma insituição na relação. desrespeitar o Ciúme é o maior dos crimes. não é um sentimento individual: é uma entidade que paira sobre o casal.

ciúme dói demais. sou uma pessoa patologicamente ciumenta. mas prometo (ai, prometo!) que, na minha próxima relação, não respeitarei o Ciúme. respeitar sentimentos, ok; mas respeitar a instituição Ciúme, nunca mais.

sexta-feira, março 17, 2006

da internet

é uma dessas bobagens que circulam pelos emails da vida... mas achei muito engraçado e resolvi compartilhar com malvinas e queridos leitores... acho que dá pra levantar uma boa discussão também. vamos a ver:

CURSO DE FORMAÇÃO PARA HOMENS
OBJETIVO PEDAGÓGICO: Permite aos homens desenvolver a parte do corpo da qual ignoram a existência (o cérebro).

SÃO 4 MÓDULOS.

Módulo 1: Curso (Obrigatório)
1. Aprender a viver sem a mamãe (2.000 horas)
2. Minha mulher não é minha mãe (350 horas)
3. Entender que não se classificar para o Mundial não é a MORTE (500 horas)

Módulo 2: Vida a dois
1. Ser pai e não ter ciúmes do filho (50 horas)
2. Deixar de dizer impropérios quando a mulher recebe suas amigas (500 horas)
3. Superar a síndrome do "o controle remoto é meu" (550 horas)
4. Não urinar fora do vaso (1.000 horas - exercícios práticos em vídeo)
5. Entender que os sapatos não vão sozinhos para o armário (800 horas)
6. Como chegar ao cesto de roupa suja (500 horas)
7. Como sobreviver a um resfriado sem agonizar (450 horas)

Módulo 3: Tempo livre
1. Passar uma camisa em menos de duas horas (exercícios práticos)
2. Tomar a cerveja sem arrotar, quando se está à mesa (exercícios práticos)

Módulo 4: Curso de cozinha
Nível 1 (principiantes = os eletrodomésticos "ON/OFF = LIGA/DESLIGA")
Nível 2 (avançado = minha primeira sopa instantânea sem queimar a panela)
Exercícios práticos = ferver a água antes de por o macarrão.

CURSOS COMPLEMENTARES:
POR RAZÕES DE DIFICULDADE, COMPLEXIDADE E ENTENDIMENTO DOS TEMAS, OS CURSOS TERÃO NO MÁXIMO 3 ALUNOS.
1. A eletricidade e eu: vantagens econômicas de contar com um técnico competente para fazer reparos
2. Cozinhar e limpar a cozinha não provoca impotência nem homossexualidade (práticas em laboratório)
3. Porque não é crime presentear com a amada flores, embora já tenha se casado com ela.
4. O rolo de papel higiênico: ele nasce ao lado do vaso sanitário? (biólogos e físicos falarão sobre o tema da geração espontânea)
5. Como baixar a tampa do vaso passo a passo (teleconferência)
6. Porque não é necessário agitar os lençóis depois de emitir gases intestinais (exercícios de reflexão em dupla)
7. Os homens dirigindo podem, SIM, pedir informação sem se perderem ou correr o risco de parecer impotentes (testemunhos)
8. O detergente: doses, consumo e aplicação. Práticas para evitar acabar com a casa.
9. A lavadora de roupas: esse grande mistério!!
10. Diferenças fundamentais entre o cesto de roupas sujas e o chão (exercícios com musicoterapia)>
11. A xícara de café: ela levita, indo da mesa à pia? (exercícios dirigidos por Mister M)
12. Analisar detidamente as causas anatômicas, fisiológicas e/ou psicológicas que não permitem secar o banheiro depois do banho.

terça-feira, março 14, 2006

A novela do Carnaval - Parte IV ou: Lá Vem o Negão Cheio de Paixão

Não acredito quando ele me escreve dizendo que está apaixonado... Eu mesma não sei o que sinto, sinto uma coisa grande que se parece com amor imemorial, fraternidade e talvez um pouco de loucura.
Nos conhecemos no meu primeiro dia, logo no meu primeiro passeio. Vi aquele negão enorme, bem preto mesmo, cabelos de trancinhas finas e um sorriso que dava para ver de longe (os dentinhos da frente separados). Quer dizer, nem vi, fui vendo depois, porque eu fui mesmo pedir informação. Queria saber dos blocos, ele quis saber de mim, me pegou na mão e me foi levando ladeira acima, como dois antigos namorados. Quando falei que tinha acabado de chegar, ele se vira:
- Ah, você é a Catarina? Conheço a sua amiga, ela me falou que você vinha...
E me chamava de Catarina, e dali pra frente eu virei a sua Catarina. Fomos para a casa dele, conversamos muito, e estranhamento não senti tesão quando ele desfilava lentamente só de toalha (os pernambucanos são muito exibidos). Não: senti paz. Uma paz enorme.
Conversamos até ele ter que ir embora, e me vejo tomada de pensamentos esquisitos, casar né? Ter filhos, filhos pretinhos, viver sob o sol ouvindo ele cantar afoxé com toda aquela força. Ele, pra lá dos quarenta, pelo menos dois de mim em tamanho e força. Quase caí assim, de bobeira, no primeiro dia.
Mas vai que à noite nos encontramos de novo. E me aparece o negão com uma mulher baixinha, mãos dadas, que me olha fulminando. Nem consigo puxar um sorriso, vejo tudo desabar e percebo na carinha chateada dele: os homens de Olinda ficam loucos quando chega o carnaval, que tem tanta saia novinha e interessante!
Fiquei até um pouco triste, já tinha imaginado sonhos e sonhos doces (quanta besteira ser romântica no carnaval em Olinda!), mas deixa, fui me divertindo, conhecendo outros, carregando ele na cabeça e perto de mim, como irmãos. Até o primeiro beijo...

O agarrão

- Você vai me deixar em casa?
- Vou, mas tô com pressa...
- Certeza? Não quer me levar onde vc vai?
- Não posso, o cara é meio nóia...
- Ah, então me dá um beijo!
- ?!?!?
- Sério! Se me levar em casa com pressa, me dá um beijo!
- Assim, sem mais nem menos?
- Sem mais nem menos o caralho! São 11 anos, cara!
- Não, sério? Eu me lembro de alguma coisa, mas não foi sempre, né? Teve épocas.
- Foi sempre. É que vc era amigo do meu namorado... Mas, vai...
(E agarro o rapaz, amigo meu de longa data, não tinha nem barba, nos pegamos forte, mais do que eu mesma esperava. É gostoso, e não sei porque tem um gosto de saudade...).
- Ah, Malvina... Vou ter que ir...
- Mas já vai mesmo? Entra um pouco!!
- Não, amanhã eu tenho que acordar cedo, vai...
- Humpf.
- Calma, tem a vida toda...

sexta-feira, março 10, 2006

A novela do Carnaval - Parte III

Manhã de sol, muito sol, e o suor escorrendo. Eu e duas amigas endiabradas, cervejinha na mão providencialmente gelada pelo porta-latinha de isopor revestido com chita e uma cara de burrinha, coisa linda!
- Vamos causar, né? Afinal, pra isso que estamos aqui.
- Combinado. É sair beijando.
Poucos passos, atrapalhados pela multidão que pula em ritmo de frevo, depois de maracatu, o que passar tocando a gente vai atrás.
- Você, me beija!
- Você, dá um beijinho!
Assim mesmo. Só apontar o alvo e pedir a graça, que é coisa que o povo gosta. Sem língua, né, porque pra isso te que ter umas duas palavrinhas...
- Oi, como você chama? Faz o quê? Ah, conhece meu trabalho? Gosta? Então me dá um beijão!!!
E sumir na multidão, de preferência evitando encontrar o mesmo rapaz logo adiante, pra não criar causo, ou casinho, afinal é carnaval. Impossível evitar, algumas vezes, trombar o merecedor do nosso precisoo beijo francês indo em direção oposta abraçado a outra menina, ou talvez duas. E nós, do nosso lado...
- Me dá um beijo! Outro!
E dançar, dançar até cair, abraçar os tios, dar beijinhos na boca, tocar algum instrumento mal e mesmo assim cantar junto, seguir o "Olinda, quero cantar essa canção..." Só uma pausa ou outra para ir a um banheior químico, ou virar alguma latinha de um rapaz:
- Dá um golinho?
E, claro, tentar atravessar a rua dos gays, o álcool subindo à cabeça e a triste percepção de que, ali, ninguém sequer nos olha:
- Ninguém quer me beijar aqui!!! Ninguém quer me beijar!!! Tô me sentido rejeitada!!!
- Olha, tenho uma amiga lá na frente que com certeza vai te beijar, quer ir lá?
Ou:
- Querida, você é linda, só não te beijo porque minha religião não permite!
...Até a tarde cair, ou cairmos nós.

quinta-feira, março 09, 2006

A novela do Carnaval - Parte II ou: E Quando Rola Tudo, Menos...?

Bom, fui procurar marido, assim, nem que fosse por uma noite, um rapaz que soubesse e quisesse me fazer as vontades e gastar um tempinho num namoro gostoso... Nos primeiros dias vasculhei as ruas de Olinda cheias de gringos brancões e negões sarados, tendo que desviar desses e daqueles braços e mãos mais afoitos (pois é, lá vc tem que desviar se quer sair intacta).
Mas eis que, afinal, no terceiro dia me passa um rapaz, o olhar negro penetrante me empurra um calafrio espinha abaixo, e eu na de virgem, né? O rapaz puxa um papo, é papo gostoso e em língua estrageira, que eu adoro, vou namorando os contornos dele, o nariz forte, o queixinho bem talhado, com aquela covinha (ai! Como não ser uma apaixonada pelos homens!), o pescoço grosso, os braços com curvinhas de se escorregar a mão, o cheiro de homem mais perto, e o sorriso (ai! como resistir a um sorriso bonito!).
Ainda o rapaz é educado, me puxa cadeiras para eu sentar, me compra cerveja e - ah, afinal eu não estava tão difícil assim, né? Vem o beijo, devagar, o primeiro, o segundo, e vamos para a praia olhar o mar, o céu de estrelas e o abraço gostoso, começamos a conversar sobre tudo, falamos sobre a terra dele, Israel, que eu conheço, falamos sobre estrelas e a lua que só aparece tarde da noite, nos namoramos as formas, falamos sobre nossos detalhes em voz baixa, falamos sobre... TERRORISMO.
Ai, dor! Não é que o rapaz era soldado, aliás, capitão, daqueles bem de filme mesmo: "meus soldados são muio bem preparados". Ix... Aí o papo desanda, ele começa a contar das ações que comandou, caçando terroristas, começa a falar dos palestinos, o ódio se vê nos olhos negros, e eu digo que não, que não deve ser assim, ele cala minha boca: "você não sabe o que está falando, nunca viveu em um país em guerra, nunca teve nenhum amigo morto pelos terroristas". Ai, meu deus! Que dilema moral! Dou ou não dou? Por sabe, é difícil rolar muito gostoso assim, logo na primeira noite; é difícil encaixar os corpos, e principalmente é difícil controlar o tesão quando ele já está assim tão bom... Mas pois: deveria eu deixar de lado minha posição política em prol de uma noite (ou mais) de sexo caliente em terras nordestinas????
Bom, foi que sim. Calei a boca do moço com um beijo, tomei-o pela mão e levei o rapaz para a minha casa, trepamos gostoso até de manhã, gemendo juntinhos, sentindo o gosto da pele do outro, uma descoberta rimada, um ritmo preciso, uma delícia! Inda pensei uma ou duas vezes nos meus amigos e colegas sabendo disso, ai meu deus, DEI PARA O INIMIGO!, mas, afinal, é carnaval, e afinal: as pessoas são muito mais complexas do que artigos que preenchem as páginas brancas das revistas e jornais. Que se dane! E sabe? Mandar isso tudo a merda só aumentou o meu tesão... Eu, ele, ali peladinhos, e a guerra lá longe.
Mas na manhã seguinte, né, tchau, porque daí a procurar o rapaz de novo, ter um casinho, já é ir longe demais. Como diria uma autêntica guerrilheira comunista: "Dar para o inimigo, vá lá, mas apaixonar-se por ele, jamais!"

quarta-feira, março 08, 2006

A novela do Carnaval - Parte I

Resposta de uma amiga mais velha sobre a minha impressão de que os caras não gostam de mulher, só de buraco (e que a psicanalista disse para ela diante da mesma reclamação): "se você não está satisfeita sexualmente é porque não está adminitsrando bem". Hum-hum. Bom, resolvi "administrar" bem e fui em frente, daí uma das semanas mais educativas na minha curta vida de solteira. No carnaval em Olinda, capital do beijo na boca, da mão na bunda e do diabo-a-quatro, deitei e rolei, minha gente, e ainda venho a cantar de galo (da madrugada), com o seguinte placar:

- Beijo na boca: 15
- Beijo de língua: 6
- Cama: 4
- Trepadas: 3 (com reprises).

Fora as historietas que terei a contar nos próximos dias. A ver!

Mulheres Modernas

O "Dia das Mulheres" só vai servir se a gente relembrar que temos um poder do caralho, não necessariamente com o caralho. Somos do caralho com ou sem ele. Viva o sexo sem tabu! Com homem, com mulher, de frente, de trás, com amor, sem amor, de amante, de cachorra, com vibrador, com velas, com incenso!! Sem cortar palavras, com gemidos, gritos altos! Vamos gritar e falar claramente, abertamente tudo o que der pra ser, pra gente ter prazer! VIBRADOR, GOZAR, MASTURBAÇÃO, Ó, (que vergonha)! SEM TABU, por favor!!! Sozinha, com um, com dois, com três, ou mais!!!!
Con lemón! Pra gente ser feliz!
Um brinde! Um brinde às mulheres modernas, que não são de revista, que não conseguem ser ricas, magras, independentes, mães e felizes, tudoaomesmotempoagora, mas que bebem, que falam palavrão, que choram pra caralho pelos caralhos da vida....
Hoje e amanhã, com ou sem caralho, mas con lemón!

sábado, março 04, 2006

era sábado, e chovia. não tinha frio, que era verão. mas chovia e chovia. e o bilhete-desenho guardado na gaveta doía. doía não: incomodava. a eterna dúvida de se atirar ou não no precipício. mas dessa vez era pior, ela pensava. e chovia.

não que houvesse música, pois não havia. havia, sim, algo tocando na antiga vitrola encostada no canto. mas não que preenchesse. a chuva se sobrepunha aos acordes. e o bilhete, lápis preto borrado, dobrado no meio - ah, que pena, já um pouco amassado - em outro cômodo da casa mas tão presente como se ela ainda estivesse escrevendo (desenhando?). desenhara as letras com um cuidado tão desajeitado quanto o modo que conduzira tudo até ali.

o vinho não estava dos melhores. e chovia. o i-ching inacreditavelmente direto, como às vezes acontece. duas perguntas sobre o mesmo tema, duas respostas que se completaram. tão absurdo que deu ainda mais medo de seguir o que ele dizia - embora ele dissesse exatamente o que ela gostaria de ouvir. ela era o tipo da pessoa que não acredita nas coisas que são ditas exatamente como ela gostaria que fossem. e chovia.

a oportunidade tão perto e tão longe: como tentar agarrar a própria sombra. a decisão tão óbvia, mas a iniciativa tão difícil. inerte como a chuva que chovia ritmada. ela chovia também, inerte e ritmada. sem ânimo para os raios que consomem de vez em quando e com medo dos trovões que vêm depois deles.