sexta-feira, novembro 28, 2008

Eu poderia...

Não que eu não pudesse te escrever. Eu poderia. Se eu tivesse coragem. Se você não fosse autor de tantos textos geniais. Se em cada um deles, falando de amor e dor, eu não me imaginasse sendo a atriz principal. Se você não tivesse publicado três livros. Se você não estivesse com duas peças em cartaz. Se você não fosse jornalista. Se você não andasse meio desengonçado e distraído por aí. E se você não tivesse me dado a mão e me ajudado a escapar daquele um milhão de pessoas quando cobríamos a parada gay. Eu poderia te ligar depois daquela noite tão boa em que passamos tão bêbados, nos beijando tanto e tão bem. Eu poderia te ligar. Se eu não fosse autora de textos tão pouco brilhantes. Se eu fosse um pouco mais bonita e um pouco menos gorda. Ou se eu tivesse um corte de cabelo moderno. Se eu não tivesse as unhas roídas. Se eu não estivesse me sentindo tão feia nessa tpm terrível e sofrendo a ausência do ex. Eu poderia te escrever, te ligar, te mandar mensagens engraçadas, se eu não vivesse presa ao meu mau humor, ao meu plano de mudar de vida sem conseguir. Eu poderia te chamar pra tomar uma cerveja ou um sorvete e dizer que compartilhamos de muitas coisas em comum. Eu poderia. Se eu não te achasse tão genial. Ou se não tivesse juntando, ainda, os cacos do meu coração que o outro fez questão espalhar. Eu poderia...

sábado, novembro 08, 2008

Pra deixar de ser coisa

Assim como Satre, Beauvoir dizia que a liberdade exige coragem moral. É mais fácil a pessoa desistir de sua liberdade e tornar-se uma coisa. Como Beauvoir deixou claro, as mulheres podiam viver bajulando os homens, vivendo através dele, sendo sustentadas por eles. "É um caminho fácil: nele se evita a tensão envolvida em assumir uma autêntica existência".
Pois bem, to tentando deixar de ser coisa.
Não que eu fosse sustentada por alguém, mas quase. É a tal da terceira perna que a Clarice tentou explicar. Porque eu passei três anos ao lado dele e comecei a me esquecer de quem eu era antes dele entrar na minha vida. Antes, eu não precisava dele. É claro, ele ainda não fazia parte da minha vida. Pois bem, posso afirmar categoricamente: deixar de ser coisa não é tarefa fácil. Eu tenho me esforçado para ficar feliz e pra lembrar do que eu gostava de fazer sozinha. Tenho sim, feito muitas coisas que eu não fazia e que eu adoro. E tenho visto pessoas que eu adoro que me fazem lembrar de quem eu sempre fui e de quem eu não estava sendo. Mas agora não existe mais a terceira perna. Ela me impossibilitava de andar mas fazia de mim um tripé estável. A proximidade do fim do ano ajuda para querer largar tudo, para criar essa confusão mental, essa vontade de mudar de vida e de recomeçar. Amanhã tem cachoeira. Isso deve ajudar.