quarta-feira, janeiro 23, 2008

Serão os 25?

Engraçado. Eu ouvi uma vez uma asneira tamanha, vinda provavelmente da boca de um boçal que eu nem me lembro mais, que dizia que ser comunista antes dos 25 era questão de sensibilidade e ser comunista depois dos 25 era loucura. Mais ou menos isso. Fiquei indignada. Mas mesmo não querendo me sinto um pouco assim agora.

Eu entrei nessa revista querendo mudar o mundo, revolucionar, mostrar o que ninguem mostrava. Era meu sonho trabalhar aqui. E realizei. Realmente acho que minhas matérias mudaram alguns mundinhos, foi bom ler emails indignados, ganhar uns prêmios - reconhecimento - e ter a sensação de dever cumprido. Mas também me decepcionei, como algumas malvinas daqui, descobri que não era bem isso.

Agora, 25 pra 26, estou arrumando minhas gavetas e limpando o computador rumo a um trabalho extremamente capitalista focado escancaradamente no business. E sabe o que? Estou adorando trabalhar lá. É dinâmico, exige criatividade, rapidez, toda hora tem coisa nova pra fazer. O jornalismo que eu sonho pra mim? Claro que não. Mas minhas contas estarão pagas no final do mês com direito a um troco pro cinema. Isso é inédito na minha vida. Prefiro pensar que é provisório, e tentar não mudar na essência. Mas não deixa de ser irônico.
Me sinto o Fernando Henrique.

do amor chuvoso


tem um pedacinho de gelo no meu coração.

e uma nuvem enorme em cima das nossas cabeças.



aqui, quando chove, a cidade fica muito cinza e muito verde. parece incoerente pra quem não é daqui, mas é exatamente o que acontece. porque quando faz sol – ah, quando faz sol! – a cidade é muito azul e muito amarela. é como se as cores da praia estivessem na cidade inteira: verde e cinza quando chove; azul e amarela quando faz sol.

estive muito com o nelson rodrigues nesses últimos dias. tenho certeza que – apesar de tudo – ele, como eu, se apaixonava e reapaixonava por essa cidade nos dias de sol, mas tolerava os dias de chuva – e até os amava – como toleramos e amamos os defeitos do objeto do nosso amor quando estamos apaixonados.

ah!, o amor…

quando ele existe? por quanto tempo? nos iludimos que ele começa ou nos iludimos que ele termina? dá pra medir o amor? dá pra saber até quando ele vai durar? dá pra saber se ele já acabou?

(eu tenho medo, muito medo, do meu amor acabar. mas também tenho medo de que ele não acabe nunca.)

eu sonhei esta noite com um antigo amor. um amor que doeu, que viveu, que morreu, que acabou… mas que ainda aparece nos meus sonhos, por mais que me pareça inexplicável.

será que o meu amor também sonha com antigos amores que morreram viveram e acabaram?

olho pela janela: o verde mais verde e o cinza mais cinza do que nunca, e uma pálida luz prateada. vejo as casas de santa teresa incrustadas na mata, o céu branco, o cristo de braços abertos que abençoa a cidade perdoando sua beleza – porque, como diria nelson, a beleza física é um pecado. talvez o pior deles, porque é inato.

será que me apaixonei também por essa cidade?

onde está o amor? onde ele fica? onde ele dorme? de onde ele vem quando aparece de repente, no meio de um gole, no meio de uma frase, num suspiro? pra onde ele vai quando a gente procura e não encontra mais?


(acho que vou sair pra comprar cigarros. e verei a cidade cinzaverde dentro e fora de mim; e seus cariocas que não sabem andar na chuva – batendo as sombrinhas e pisando nas poças.)

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Lê minha matéria?

Lê o começo da minha matéria? Diz que está bom?
Pensa que eu sou inteligente e me diz que nunca tinha pensado nisso? Diz que eu fico bonita de óculos? E me olha com aquela cara que me arrepia os pêlos que eu arranco os óculos. Os meus e os seus.
Traduz meus textos e me explica economia, que eu faço aquela cara de burrinha para você estufar o peito de homem experiente?
Mas lê de um fôlego só?
E aí, gostou?

sábado, janeiro 12, 2008

A transcrição de um romance

Ela era uma escritora espanhola. Ele é um famoso tradutor. Ela escrevia e ele traduzia. Há três anos, no entanto, que essa parceria não se consumava, visto que ela havia parado de escrever romances. A inspiração de uma nova história surgiu em uma viagem a uma praia paradisíaca. A história já estava desenhada na cabeça dela e por isso concedeu uma entrevista para anunciar a sua próxima publicação. A transcrição desta entrevista foi designada ao tradutor e antes mesmo dele começar o seu trabalho, a autora morreu. O livro não seria escrito. Portanto, todo o conteúdo (ou a idéia dele) estavam naquela fita. Seria a transcrição daquela fita e nada mais. O rapaz então decidiu se empenhar com dedicação em cima dessa entrevista. Conforme o tradutor ouvia aquela longa entrevista, ele foi reconhecendo o modo como ela descrevia as situações que conteriam no próximo livro e se viu dentro dele. Ele já havia passado por situações parecidas e já havia se deitado com aquela mulher com aquela mesma vontade. Ela revivia em sua história alguns episódios já vividos nos romances anteriores. Eram aventuras sexuais interessantíssimas, sempre saboreadas com um pouco de suspense, diversos tipos de bebidas alcoólicas, diálogos interessantes e muitos trechos de livros de outros autores. Quando a fita acabou, ele releu e teve a certeza de que aquele seria o melhor título da autora. Mas ficaram apenas as palavras da autora contando o que poderia ter sido e que não foi. Apenas ele, por se reconhecer na história, sabia que ela não poderia ter sido publicada, jamais.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

1.45am: email pra ele

É 1:42 agora. Falei com você agora há pouco e obviamente não consegui mais dormir. O fato é que eu não posso competir com a cerveja e muito menos com a madrugada. Por isso entrego os pontos. Melhor você ser solteiro e não ter alguem te enchendo, pedindo para você por favor não sair sozinho. E mais do que isso, eu prometi para mim mesma que não iria mais perder minhas noites de sono por causa de homem nenhum. E não vou. Porque isso não vai acabar nunca. E é importante para você, muito mais do que eu - já que as três vezes que eu não pude estar e pedi pra você não ir, você foi. Portanto não vai dar certo. Você é outra pessoa quando bebe, e se isso te faz bem, eu respeito. Mas pra mim não tá fazendo. Eu já passei por isso antes e, de verdade, não quero passar de novo. Eu tenho um filho, não posso te acompanhar sempre. Você precisa de alguém com menos compromissos. Alguém menos chato. Radical da minha parte? Provavelmente. Mas do outro jeito não funcionou pra mim. E nem pra você. Do contrário você não teria dito que sair sozinho não presta. Concordo plenamente. Não presta mesmo. Por isso, acho melhor você seguir sua vida do jeito que mais gosta, com as prioridades que você elegeu. E eu sigo a minha,com as minhas noites de sono e meu estômago intactos. Não quero mais ter azia pensando que alcool, balada e gente solta não é uma boa combinação.
É isso. Sem ressentimentos. É só uma questão, como ja disse, de estilos de vida diferentes. E do que eu penso de um relacionamento.
Vou juntar suas coisas aqui e depois a gente combina uma hora e eu deixo pra vc na portaria.
Que pena.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

os dez mais de 2007


ok, minas, eu sei que nesse ano não estou com muita moral pra escolher os "dez mais", afinal ando muito relapsa com o nosso querido blog. mas como estou de férias "por tempo indeterminado" (e hoje chove a cântaros no rio de janeiro), gastei aqui um tempinho escolhendo os dez textos de 2007 que, na minha opinião, são os mais líricos, românticos, engraçados ou representativos desse humilde blog. também acrescentei mais cinco "menções honrosas" a textos que, embora não coubessem nos "dez mais", precisavam ser relidos e relembrados. afinal, malvinas, o que pode ser melhor do que nos auto-premiarmos???

aproveitando o ensejo: um PUTA 2008 pra todas as malvinas e, é claro, pro respeitável público. e vamos lá, porque recordar é viver:


OS DEZ MAIS DE 2007


virtual

de deixar morrer

blue eyes


uma mulher na marginal


a cobra e o porco

era uma vez uma bicicleta

a menina que eu não beijei


triste


o dia em que ele chorou

desceu as escadas...



menções honrosas

http://tequieroconlemon.blogspot.com/2007/02/t-certo-carnaval.html

http://tequieroconlemon.blogspot.com/2007/10/raciocnio-lgico.html

http://tequieroconlemon.blogspot.com/2007/08/farewell.html
http://tequieroconlemon.blogspot.com/2007/06/canalha-oh-yeah.html
http://tequieroconlemon.blogspot.com/2007/02/imagem-cravou-no-meu-peito-daquele.html

sexo, maconha, chocolate e armários novos. Meus votos pra 2008.

Toda essa coisa de balanço de fim de ano me cansa muito. Planejar então... preguiça monstra. Até porque as promessas são sempre muito comuns. Parar de fumar, começar o regime, resolver aquilo, fazer cursos, pedir aumento ou escrever melhor, sei lá. O fato é que eu tenho me dado muito bem não projetando minhas ansiedades de mulher doida em cima do gajo. Fizemos sete meses no 31 de dezembro e, sem expectativas, a coisa têm andado muito além das expectativas. Inclusive as alheias. Por que os outros adoram ficar gorando? Ih, olha lá, ela vai se dar mal agora....... agora....agora! Uma semana de sono, maconha, larica, chocolate e salgadinho, sal areia e muito sexo salvaram minha virada. Achei que ia ser mais dificil. Primeiro ano (de seis) sem o ex na hora dos fogos.Primeiro ano (de três) sem meu filhote, que agora é dividido por dias da semana (lamentável). Mas me lembrei que ano passado chorei na meia noite, com ele ligando pra ela. E mandei uma mensagem frenética, dizendo que esse ano não iria chorar, que ele ligasse e fosse muito feliz ao lado de quem escolheu. De verdade. E desprendi mais um pedacinho. Mais sexo, maconha e cochiladas no meio da tarde, não conseguimos nos desgrudar até agora. E há duas semanas ele mora na minha casa sem morar. Silenciosamente inventamos desculpas pra não ir embora. E ele pregou meus armários novos, arrumou os carrinhos na prateleira. E, na hora da brincadeira, disse: "Agora colocamos um biombo aqui e do lado de lá é o quarto do pequeno e aqui é o nosso". Disfarçou. Disfarcei. Ri e fiz um café pra nós dois.