quarta-feira, fevereiro 28, 2007

O amor e manco, burro, zarolho e trombeta.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

granizo.
gra-ni-zo.
granizo.
choveu gelo agora à tarde; granizo. palavra esquisita que ficou dançando na minha cabeça a tarde toda. na boca com vontade de ficar falando: gra-ni-zo. coisa de criança essa de brincar com as palavras. palvras que dançam, pulam e reviram tanto dentor da boca que parecem perder o sentido e a sonoridade vulgar. viram esquisitas, sons guturais, da pré-história. acho que as crianças pensam muito na pré-história. nos furacões, no planeta cheio de formiguinhas, em deus. quando eu tinha seis anos eu concluí que deus não existia. e também que se um dia eu fosse me matar, seria pulando de um lugar bem alto. eu nunca entendi esse pessoal que se mata com faca ou comprimido. revólver ou pendurado no lençol. se podem morrer voando! - é o que eu penso até hoje. choveu granizo e os grãos não derreteram. os daqui de dentro. gra-ni-zo.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

tá certo: é carnaval. mas ontem eu me decepcionei com a raça humana - e masculina, principalmente - mais uma vez. estou eu pelos bares da vida, e eis que encontro um amigo de colegial que não via há tempos. um amigo daqueles que, em tempos de colégio, era um dos poucos (senão o único) exemplares do sexo masculino que tinha qualquer coisa dentro da cabeça que não fosse maconha; aquele cara gente fina que tinha lido mais de duas páginas de um livro e com quem eu gostava de conversar sobre política, literatura, enfim, qualquer coisa que não fosse quantas doses de vodka barata tomamos na noite passada - apesar de ele e eu sermos também, e já naquela época, bons de copo.

pois bem. cidade vazia, caranaval, sento no bar e encontro o cidadão. demonstrei minha alegria por encontrá-lo e o convidei a sentar com a gente. depois de algumas várias rodadas de cerveja, levanto e vou fumar uma ponta na esquina vazia (sim, ainda conservo meus hábitos colegiais). nem bem acendo, vejo o cidadão (meu deus, ele não mente quando diz que engordou dez quilos!) vindo em minha direção. sorrio:

- uai, deu pra fumar maconha?

ele se aproxima de mim e estica os braços meio troncho (tronxo?), em direção à minha cintura:

- ...????

- eu quero te dar uns beijos, malvina.

- uahuahahuahuahuahuaha tá maluco? - eu ainda tinha esperança de que fosse brincadeira.

- você não quer?

- uahuahauhhaua meu filho, cê pirou? e outra: eu tô namorando. aquela garota, sentada na mesa, é minha namorada.

- ????

- é, cê vê, que loucura? a gente nunca sabe o que esperar das pessoas. vai, vamo voltar lá.

voltamos pra mesa. ele finge que nada aconteceu e puxa a conversa com as gringas pra si. passado algum tempo, o pessoal vai embora. ele fica quieto por algum tempo, depois olha pra gente e diz:

- porra, preciso comer alguém hoje.

dá uma pequena pausa e emenda:

- vou sentar ali na outra mesa.

levanta e sai sem se despedir.

a gente foi embora logo depois, eu não comentei nada, é claro, mas tive de me segurar pra não fazer isso. minha revolta era tanta! lembrei que conversei com ele recentemente pelo messenger e marquei uma cerveja, lembrei da minha inocência ao convidá-lo alegremente pra sentar com a gente. pensei que estava revendo um amigo. o cara queria me comer. e é pra lá de mal educado ao ver que tomou um fora, e deixa bem claro que foi ainda mais por eu estar com uma mina. esse é o cara que eu achava o mais inteligente do colégio no alto dos meus dezessete anos. eita mudo véio sem porteira, sô! a raça humana não tem mais saída. e viva o carnaval!

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

A imagem cravou no meu peito, daquele jeito que faz a gente cerrar os dentes.

Ela era pequena, magrinha e de mochila azul. Devia ter uns nove anos. Subiu no ônibus com mais quatro irmãos, todos de máscaras de papel preparadas por eles, era de se ver, para o carnaval. Mas ela era diferente, era a princesa. A única de fantasia, com os cabelos bem puxados para trás com água, amarrados numa fita. Os cachinhos eram bem diferentes do cabelo liso da branca de neve estampada em seu peito. A capa vermelha estava furada, os paetês verdes dos ombros bufantes descolando. Ela era uma branca de neve negra e pobre, indo para o carnaval da escola pública.

Sei que a ironia fala por si. Mas preciso dizer que pensei na indústria Walt Disney. Pensei na pequena sereia branca e ruiva de fartos cabelos, pensei na branca de neve, na cinderella, todas loiras, brancas de nariz fino e lembrei que no mundo encantado não cabe uma princesa negra. Me deu vontade de dizer pra branca de neve da mochila azul que ela era a princesa negra mais linda do mundo, que soltasse o cabelo, que a branca de neve no seu peito não era páreo pra ela em beleza e força. Mas me calei. Ela desceu do ônibus, atravessou a rua, a capa voando, os paetês verdes refletindo o sol. Lembrei do meu filho de 2 anos me dizendo maravilhado que os cabelos trançados da sua amiguinha da escola era “muito lindo, mamãe”. Desejei com toda força que ele sempre pense assim. E desejei com mais força ainda que ela também ache. E que nunca, nunca mesmo vista-se de branca de neve e puxe os cabelos para trás.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Ufi, ufi!

Ufi, ufi! me apaixono por esse moço toda vez que ele visita a redação... claro que não é um "apaixonar-se", é uma paixãozinha assim de vista, mas ufi ufi!
Ele nem me dá bola. Uma vez deu, uma malvina daqui é testemunha, mas depois não deu mais não...
Até esqueceria a separação enrolada, o vai não vai que como canta Nara Leão "quem diz muito que vai não vai, assim como não vai, não vem". Opa! Esse me faria esquecer! Ufi, ufi. Ele bem na minha frente e agora com um moicano de dreads! Pularia em cima, ufi ufi! Que engraçado, não é dos mais gatos, mas não sei o que é, ele aqui conversando com um e outro, só mereci um "bom dia dona malvina" hoje. Essa foi minha porção diária, eu que me contente! Ufi, ufi. Deve ter mulher, só pode. Descolado assim, elas despencam tal qual bananas maduras. Tudo bem, uma paixãozinha visual assim, no meio da manhã até que renova o ânimo. Mas se eu pegasse... aaaah se eu pegasse.
Ufi, ufi...

terça-feira, fevereiro 13, 2007

e a putaria continua!

sim, respeitável público, nossa amiga malvina la malva segue em sua esbórnia sexo-virtual (ou virto-sexual?). e pra provar que é tudo verdade, apresento-vos abaixo a conversa que acabo de ter com nossa cara colega de blog (atenção à passagem de tempo):

malvina trabaiando says: (13:55:05)
opa

malvina trabaiando says: (13:55:08)
vc por aqui?

malvina la malva: (13:55:22)
oi nenem

malvina la malva: (13:55:26)
to brigando com o homem...

malvina trabaiando says: (13:55:30)
eita

malvina trabaiando says: (13:55:39)
nao faca guerra, faca amor (l)

malvina la malva: (13:55:45)
hahaha

malvina trabaiando says: (14:14:55)
ainda brigando?

malvina la malva: (14:15:07)
nao ja esquentou...

malvina la malva: (14:15:11)
nega vou ter que sair do msn

malvina la malva: (14:15:13)
uh!

malvina la malva: (14:15:30)
bj

malvina la malva: (14:15:35)
uhm!!!!

malvina la malva: (14:15:40)
que homem meu deus!

malvina la malva: (14:15:42)
bvj!

malvina la malva may not respond because he or she appears to be offline.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Um homem

Ontem me chegou um homem, assim, do nada. Às vezes isso aocntece comigo, um homem (ou uma mulher) me pega de surpresa e me revela alguma coisa da vida, alguma coisa que eu precisava ouvir. Difícil explicar o encontro evitando as palavras místicas. Mas vai.

Ele não tinha nada de incomum, a não ser que falava muito. E como outras vezes, como outras pessoas que já me aconteceram na vida, não era anjo, não era lindo, não era sagrado. Só veio direto falar comigo. Estávamos num takeaway indiano, e eu com aquela cara de tédio, a cabeça pesada de ressaca, tentado fingir que não falava inglês. Ele falava e sorria, negro e enorme. Eu me desentendia. Ele começou:

- Depois de um tempo que as pessoas vivem aqui elas ficam como os ingleses, elas deixam de olhar para o lado. Como cavalo, sabe, que colocam aquela coisa nos olhos - não sei a palavra emportuguês e muito menos em inglês, mas entendi porque ele, falando, gesticulava muito. E sorria:

- Eu apesar de ter nascido aqui me cuido pra isso não acontecer. Minha família é do Caribe, tenho no sangue o gosto de falar com a gente, de olhar no rosto da gente.

Eu estava bem no meio de um pensamento que era: ai mais esse chato agora... Tive que parar. Olhei para cima, olhei pra ele. Verdade, falei, a gente vai ficando fechada também. Ele seguiu:

- Sabe, muita gente vem pra cá e se perde. Toma cuidado. Todo mundo chega com um sonho, mas aí a cidade vai levando, vai comendo. Depois de quatro anos, estão ali trabalhando num restaurante, numa lanchonete, porque aquilo permite que eles pensem em outra coisa enquanto fazem o serviço. Veio a vida e apresentou um caminho outro, tantos caminhos, e eles foram embora junto, até esqueceram do sonho primeiro.

Fui ficando atônita, a respiração até mudou. Estava chocada, grata, meio nerevosa e com vontade de enfiar na cabeça que o cara era um chato mesmo, e nada mais. Tentei responder, mas saiu só:

- Como assim? Como é que a pessoa se perde?

E ele me olhando do alto:

- Sabe por que você está demorando tanto pra escolher? (eu com o cardápio na mão há uma meia hora, atrapalhada com aquele monte de nomes indianos e Bangladeshis e ainda com aquela falação). Ele mesmo responde:

- Porque você tem muita opção.

E sorriu de novo. E me derrubou. Chegou o seu pedido, pegou o pacote, me apertou a mão e saiu. Não era nada que eu já não tivesse ouvido antes, mas bateu demais.

Antes de vir, e eu sempre soube, estava numa confusão aberta e linda, preparada pra o que desse e viesse. Mas agora já são meses de confusão, meses de esperar, meses de tentar entender. Tô cansada. Os caminhos mais variados seguem me chamando, e no entanto eu já decidi o meu faz muito tempo.

Tem gente que fala que nem é escolha, que eu nasci praquilo. Tá na hora de voltar. Um passo pra trás. Que na minha pequena seleção de coisas que eu faço e amo, no meu caminhozinho e mesmo invejando aqueles todos que pegaram outros caminhos e foram pra outras partes, na minha estradinha estreita e de terra eu sou feliz.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

O melhor elogio

Outro dia um amigo meu me disse:

Malvina, você é tão importante para a felicidade de um homem quanto uma cidadania européia.

Amigo é pra essas coisas.

sábado, fevereiro 03, 2007

Reconhecer

Tá na hora de reconhecer: está dando errado. Não sou eu, não é minha a culpa de estar deprimida, meu deus. Ok, talvez minha expectativa fosse muito grande, talvez minha ansiedade não permita dar tempo pra as coisas se arrumarem, talvez eu não esteja olhando pra as pequenas delícias da vidinha besta. Ou talvez seja só o frio... Não. Chega uma hora em que a gente tem que admitir (até pela nossa própria sanidade mental): está dando errado. Ninguém responde meus e-mails ou atende o telefone, quando eu ligo. Ninguém se interessou em me empregar. Não gosto do curso. Ninguém se animou em ser meu amigo. Ninguém se anima em me convidar pra sair. Não conheci bares bacanas, não fui a passeios legais, não descobri nada que tenha me surpreendido, não vivi um momento sequer que tenha sido mágico, não produzi nada de que tenha orgulho, não construí nada. Não tenho uma casa, não tenho lugares favoritos, nem comida favorita, nem hábitos bacanas. Não tá virando. Tá ruim.
E então coloquei os dois para sentar na mesma mesa e saí sem avisar. Quando voltei, pude ver a cara de bunda. Ele não podia acreditar. Eu lhe observava quando perguntou para a pessoa ao lado quem era - e ela respondeu. Ele ficou incredulo e foi embora sem se despedir. Era a confirmação de tantos nãos. E pra ele, tão pouco confiante, tão inseguro e por isso tão sedutor, era uma vingança ao ex de quatro anos atrás que me procurava na mesma semana. E uma vingança por ela, que nem sabe que nutro um sentimento de dó, pena, ciúmes e no fundo uma torcida, na espera de um milagre... E o outro que não sabia o que estava acontecendo, não percebeu o meu gesto de amor. Não tem mais vez. Restava contar aos outros dois. Não faltou chance no dia seguinte. Bebi até ficar inconstante, perdida e confessei. Em um curto espaço de tempo, restava contar apenas pra mim. Eis que alguma coisa me parou. Eram os planos dele na direção oposta. Me perdi.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

De deixar morrer

Primeiro foi rio acima, em um daqueles barcos grandes que levam os paraenses à Manaus e os amazonenses ao Pará. As redes todas misturadas numa colorida confusão ocupavam cada canto que podiam. Verdes, amarelas, azuis, com varanda, bordadas à mão, feitas de algodão ou crochê... tão próximas que acabavam com qualquer lembrança de privacidade
Eu vi quando eles chegaram e logo tratei de fazer caras de poucos amigos, para ver se iam acrochar suas redes longe da minha, já tão espremida. Não surtiu efeito. O homem pôs a sua cama nômade bem na minha frente e depois foi tratando de atar a dos filhos e da mulher ao seu redor.
Enfim o apito soou (que angústia provoca um barco parado!) e a paisagem foi ficando amazônica com suas pequenas palafitas e verdes imensidões. Pouco depois veio o choro – alto e desesperado, cortado por palavras que balbuciavam algo sobre problema no coração.
Eram da mulher dele e foi assim que, pela primeira vez, vi um homem morrer na minha frente. E eu, que não sabia que alguém podia deixar esse mundo em plena quarta-feira, às duas e meia da tarde, fiquei atônita. Os outros passageiros, ao contrário, acorreram ávidos para ver a morte nos olhos. A filhinha dele também. Driblou a mãe e a tia, que tentavam fazer com que ela ficasse longe da cena e ficou quieta de frente para o corpo, fitando-o. Uma cabecinha no meio da multidão rapina. Já está frio, alguém disse, e não faltou quem quisesse tocar os pés dele, para comprovar a temperatura e depois murmurar: é mesmo. A morte é besta, não tem solenidade nenhuma.
Como eu quis pegar aquela menina de cinco anos no colo e dizer que ia ficar tudo bem! Mas o rosto dela trazia uma expressão que me deixava pequena e impotente. Ela estava distante, como se estivesse se iniciando em mistérios que nenhum de nós conhecia. Em sua carinha infantil estavam os olhos de uma mulher.
Dez dias depois, eu estava tomando um suco em uma pequena cidade portuária quando um cortejo fúnebre passou na minha frente. O caixão seguia no alto de um caminhão do corpo de bombeiros, seguido por dezenas de motocicletas. Uma semana depois, andando em uma viela em Manaus, me deparo com um velório em uma pequena casa.
Por que três encontros com a morte nas minhas férias? A pergunta me envolve como um casaco e eu, que não acredito em respostas únicas, me digo: está na hora de saber deixar morrer.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

o amor é um não sei quê
que faz a gente humildemente compreender
e de repente perdoar
pra novamente a briga começar






recomendo joão nogueira, recomendo paulo césar pinheiro. recomendo baden powell. reomendo vinícius de moraes, o homem que entrava em depressão quando não estava apaixonado (v. maria bethania). recomendo banho de chuva, recomendo fones de ouvido. recomendo coragem, e chorar de cara limpa e escancarada. recomendo o que te faça esquecer, o que te faça relembrar. recomendo ver por outro ângulo. recomendo perder-se nos ângulos. recomendo samba, tango, bolero, sertanejo. recomendo paulinho da viola e paulo vanzolini. recomendo o amor. mas conselho dá quem quer e aceita quem pode.