segunda-feira, junho 25, 2007

uma mulher na marginal

acordo chorando. sei que é a maldita tpm, mas de que adianta? quero me matar de qualquer jeito.



alguns minutos depois, estou na marginal. é domingo, a grande avenida cinza está vazia. os poucos carros andam depressa. testo a (pouca) força do meu carrinho 1000. consulto de novo as instruções que eu, mulher moderna e independente, peguei na internet. não tem como errar: manter-se ao lado do rio, seguir até a ponte transamérica. atravessar a ponte, pegar a marginal pro outro lado. seguir por 2 km e fazer um retorno; depois do retorno, é só pegar a primeira à esquerda.

são cerca de 10 km na marginal até a ponte transamérica. sei que um erro na marginal é fatal: agruras de quem dirige em são paulo. uma saída errada te leva ao outro lado da cidade: lugares estranhos, inóspitos; favelas, quebradas, bandidos maus prontos a te atacar. ou uma rodovia estadual sem retorno. basta um vacilo e você pode estar a caminho de outro estado, sem chance de voltar antes do primeiro pedágio. eu não tenho um tostão no bolso. sou uma mulher moderna: cartões, cheque, crédito fácil e rápido. mas dinheiro que é bom, nada.

consigo alcançar meu objetivo: sigo as placas para a ponte transamérica. atravesso a ponte e vejo os conjuntos empresariais gigantescos do itaim se distanciando. algo está errado nas minhas intruções: o caminho de volta à marginal não é tão reto quanto parecia no mapa. mas não me desespero; pego a marginal para o outro lado e sigo em frente à procura do meu retorno à esquerda.

a mulher moderna e independente também é capaz de fazer julgamentos lógicos: do meu lado esquerdo, só o rio. como será possível um retorno à esquerda? passados uns 3 km, chego à inevitável conclusão de que errei em alguma coisa. começo a me sentir desesperada (maldita tpm), mas não vou desistir. tento decifrar nas placas um jeito de atravessar novamente o rio e começar tudo de novo. me sinto a pessoa mais imbecil e imprestável do mundo ao fazer o retorno pela mesma ponte em que vim pela primeira vez: a mais próxima da minha casa. mas não desisto. faço os mesmos 10 km até a ponte transamérica.

nessa altura, a mulher moderna e independente já foi pra conta. avisto um CET ao longe, quando estou na saída da ponte. acelero rezando para alcançá-lo. para minha sorte (ou azar, como veremos depois), a viatura amarela estaciona num canteiro. paro ao lado dele, os óculos escuros escondendo as poucas lágrimas. faço voz séria:

- moço, por favor, preciso chegar na av. fulano de tal.
- fulano de tal? só conheço a fulano de tal.
- hmmm... é, acho que é essa.
- tá longe hein moça? - sinto vontade de esganá-lo - a senhora tem que pegar a ponte do socorro.

socorro! ele me explica o caminho duas vezes. me esmero em prestar atenção e decorar tudo. sigo o caminho conforme ele me explicou. tudo desaba.

antes, estava perdida apenas na marginal. agora, estou num bairro desconhecido. em são paulo, se perder na marginal é ruim, mas pelo menos você sabe como voltar. é só seguir reto, para um lado ou para o outro, até achar uma placa com nome familiar. mas se perder num bairro pode ser infinitamente mais assustador. ainda mais num domingo: pontos de táxi vazios, postos de gasolina fechados, nenhum carro ao lado. rodo no brooklin como barata tonta. acho uma avenida com o nome do bairro que eu procurava; tento segui-la para o lado que julgo ser o certo: ela acaba em outra avenida, na tranversal. dou voltas, voltas, encontro um posto de gasolina. não tenho nem o que perguntar. obviamente ninguém conhece a av. fulano de tal; os homens olham com um misto de pena e riso. saio chorando mais; penso em estacionar o carro e pegar um táxi. não tenho um tostão. procuro um shopping com estacionamento. as ruas me parecem cada vez mais desertas. o contador do carro me mostra que já rodei mais de 40 km desde que saí de casa.

acho placas que me levam à marginal pinheiros novamente. pego a grande e já familiar avenida cinza. desisto. sou absolutamente incompetente. quero minha mãe. aliás, meu pai. minha mãe estaria tão perdida quanto eu. mulheres, bah! sigo 8 km chorando desconsoladamente até minha ponte inicial. choro alto, que nem criança, sozinha no carro sem rádio. uma caminhonete emparelha comigo, três moleques na caçamba. eles riem de mim. mostro o dedo e acelero. malditos homens infelizes e insensíveis, sempre dispostos a rir das nossas fraquezas. abro o portão da minha casa e assino definitivamente meu atestado mental de incompetência e imbecilidade feminina.

terça-feira, junho 19, 2007

O desfecho do bonitão

Só ontem percebi que vivi uma época mágica. E ela passou sem que eu a tenha vivido de maneira completa e apaixonante. Ele alegrava os meus dias no trabalho, fazia dos nossos jantares o instante mais feliz e as tentações ditas virtualmente ou ao pé do ouvido, um momento de calafrio e suspiro. Eu ia trabalhar contente, me arrumava pra sair no dia de cerveja e fui alimentando uma paixão platônica durante um ano e meio, reprimindo um tesão maluco e inventando inúmeras razões para não me jogar nos braços dele. Ele sempre me fez sentir muito mais mulher e muito mais gostosa do que qualquer um que tenha, de fato, trepado comigo. Mesmo sem me ter, ele me tinha gostosa e me fazia gostosa, me arrancava mulher dos meus sonhos e dos dele também. Antes de mudar de lugar e de horário, ele deu sua última cartada e eu, trêmula de tanto tesão, tonta de tanta paixão, disse não. Disse não por medo, por acreditar que não seria capaz de trair o meu amor e, principalmente, por saber que eu não conseguiria ter uma noite apenas com ele. Mas ele ainda completou a conversa com uma frase certeira e dolorida: "quer saber, acho que vc, no fundo no fundo, nunca quis." Eu quis acreditar que poderia haver uma chance no futuro, talvez não tenha percebido o tamanho do desastre e o fim da alegria diária. Enfim, ele foi. Mudou de lugar, de horário e não nos encontramos mais. Os dias foram ficando cinzas, os jantares escassos e o bar vazio, mesmo estando cheio, como ontem. E pasmem: aquele homem delicioso, que nunca seria de ninguém (e muito menos meu), assumiu um namoro com a menina mais sem graça do trabalho. A esperta dançou sozinha no bar com saudade de um tempo que não volta.

quinta-feira, junho 14, 2007

mas os pensamentos não são mesmo lineares...

Engraçado. Estou aqui, fumando um cigarro no contraluz do holofote que ilumina a grande faculdade em Moema. Porque eu não fumava, mas agora o cigarro faz parte do pacote "nova péssima pessoa" que estou me tornando, como disse ao ex hoje, diante da cara de indignação nojo e pena que ele fez ao ver o isqueiro rosa em cima da minha mesa. Talvez porque as pessoas sempre esperem de mim atitudes corretas e maduras e eu estou com vontade de poder fumar um cigarro e dar na primeira noite e isso é problema meu mas não parece. Olhei para trás e vi o aquário. Uma academia de musculação que fica no meio da grande faculdade, onde faço uma dp. E lá dentro vi pessoas lindas, saradas, esbeltas e bem nutridas de Moema vestidas pela Nike, e pensei que a minha bunda deveria ser um grande incentivo para as meninas que corriam na esteira. Aposto que correram mais 15 minutos, entre goles no gatorade, depois da visão da minha bunda grande de quem come pizza fria as cinco da tarde. Pizza de anteontem esquecida na geladeira da redação. Mas a bunda é minha, e vai muito bem obrigada. Pensei no meu treino de amanhã, que não é na esteira, mas no ringue, e que parei de ir a yoga faz tempo. Parei porque não estou para a yoga. Estou para os socos e os cigarros no contraluz. Nem estou para o meu vegetarianismo e comi pizza de peru.Mas nada disso importa na verdade. Nem a desaprovação, nem a minha bunda, se bem que eu queria perder uns cinco quilos... Mas não estou para a Yoga. Nem para alfaces. Muito menos para a Nike e a esteira do aquário. Estou para o meu cigarro, para o saco cheio, para o sexo sem compromisso, apesar de estar mais compromissado do que deveria.
Um viva à pizza fria e aos pensamentos que não são mesmo lineares.

quarta-feira, junho 13, 2007

mas os pensamentos não são lineares...

Engraçado. Estou aqui, fumando um cigarro no contraluz do holofote que ilumina a grande faculdade em moema. Porque eu não fumava, mas agora o cigarro faz parte do pacote "nova péssima pessoa" que estou me tornando, como disse ao ex hoje, diante da cara de indignação nojo e pena que ele fez ao ver o isqueiro rosa em cima da minha mesa. Talvez porque as pessoas sempre esperem de mim atitudes corretas e maduras e eu estou com vontade de poder fumar um cigarro e dar na primeira noite e isso é problema meu mas não parece. Olhei para trás e vi o aquário. Uma academia de musculação que fica no meio da grande faculdade em moema, onde faço uma dp. E lá dentro vi pessoas lindas, saradas, esbeltas e bem nutridas de moema, e pensei que a minha bunda deveria ser um grande incentivo para as meninas que corriam na esteira. Aposto que correram mais 15 minutos, entre goles no gatorade, depois da visão da minha bunda grande de quem come pizza fria as cinco da tarde. Pizza de anteontem esquecida na geladeira da redação. Mas a bunda é minha, e vai muito bem obrigada. Pensei no meu treino de amanhã, que não é na esteira, mas no ringue, e que parei de ir a yoga faz tempo. Parei porque não estou para a yoga. Estou para os socos e os cigarros no contraluz. Nem estou para o meu vegetarianismo e comi pizza de peru.

segunda-feira, junho 11, 2007

blue eyes

uns olhos azuis de mergulhar dentro e morrer afogada.




de barba por fazer daquelas que arranha o rosto da gente e é tão bom. de altura de ficar na ponta dos pés pra alcançar, de mãos fortes, de duro, de áspero, de macho. de pau duro. de músculos, de fortaleza, de abraço, de proteção. de proteger. vontade de proteger os olhos azuis só pra mim. vontade de ter pra guardar, de ser pra se submeter, de conduzir pra exibir. de aceitar e ser só uma flor fraca escondida dentro do seu bolso. de mandar e ver os olhos azuis perdidos e dominados de tesão como só os olhos de um homem podem olhar pra uma mulher.



(vontade, às vezes, que isso não fosse só uma brincadeira e um tesão lírico usado pra contribuir humildemente com esse blog, e que eu não soubesse muito bem como são rasas as lagoas azuis do seu rosto, e que um homem é só um homem, que são todos uns meninos bobos e esse é um dos mais bobos de todos, e que lêem o jornal com a gente e comentam no domingo de manhã que todas as mulheres são carentes e todos os homens são mentirosos, e que por isso mesmo os homens sempre acabam favorecidos... vontade de não ter rido e concordado plenamente, vontade de não ter nada nem ninguém, vontade de simplesmente ser outra pessoa por um dia, um minuto ou um segundo.)




e me afogar nos seus olhos azuis de se afogar.

mesmo.

sábado, junho 02, 2007

Canalha: Oh yeah.

As dez e meia estou aí. Foi o último combinado. Agora não posso mais voltar atrás. Gelo no estômago. Provavelmente, para outras malvinas, isso não seria nada demais. E não é mesmo. Mas para mim, siginificaria muito. Seria o rompimento oficial de um relacionamento de seis anos. Que, apesar de já estar rompido fisicamente, com cada um morando na sua casa, não tinha muita certeza sobre o coração. Ainda era um pouco nebuloso na minha mente como seria ficar com outro cara depois de seis anos. E mais: como seria transar com outro cara, já que comecei a namorar o ex aos dezessete anos e tinha sido o único até então, com quem inclusive tive um filho. Além de tudo isso, as encanações. Meu corpo que depois de um filho já não é o mesmo, tirar a roupa na frente dele…Por isso que desde os primeiros assédios do canalha eu resolvi ceder. Era perfeito. Sem chances de me apaixonar, por tudo o que ja disse nos outros posts. Era um canalha, afinal! Sem expectativas! Mas uma delicia, com fama de ótimo na cama, e sempre rolou uma tensão entre nós. Mesmo quando éramos casados e saíamos todos juntos, nós, eles, os filhos que brincam juntos até hoje.
Pensei em tudo isso enquanto fumava um cigarro debaixo do chuveiro quente. Eu não fumo mais. Mas esse cigarro estava delicioso. O banheiro em fumaça. Lembrei de quando fumava escondida dos meus pais no chuveiro, e colocava uma toalha tapando a fresta da porta. Me depilei, passei meu crème mais perfumado. Coloquei o vestidinho mais fácil de ser arrancado. Acendi um incenso, coloquei Velvet pra tocar. O interfone. O estômago. O cigarro.
Abri a porta. Ele lindo, safado. Me agarrou antes do “oi”. Fechei a porta no escuro. “perdi a aposta” ele disse. E nem abrimos o filme que ele havia trazido para assistirmos juntos “Mulheres a beira de um ataque de nervos”. Ele me virou do avesso. As tatuagens debaixo da roupa eram ainda melhores. O piercing no mamilo. E as sacanagens no ouvido. A coisa rolou durante uma hora e meia e só parou porque tínhamos que chegar na festa a tempo dele tocar. Lá mal nos falamos. Apenas um encontro e outro, tempo para mais uma sacanagem dita baixinho. Ele tocou, a festa foi ótima, as mulheres despencando em volta dele. Eu rindo divertida com o segredinho. Cheguei em casa 5 da manhã, com outra carona. As seis tocou o interfone. É maluco, pensei. Arrancou minha roupa na porta, fomos pra debaixo do cobertor. Agora eu to fudido. Vou me apaixonar por você e você não quer nada comigo. Você é muito linda, muito gostosa. E você me acha um filho da puta, não vai querer namorar comigo. Ele dizia e eu ria, pedia pra ele poupar o vocabulário comigo. Não precisava, a gente sabia muito bem o que estava rolando. Normalmente sou eu que digo isso, os papéis aqui se inverteram, ele dizia. Eu ria, beijava mais. Feliz por não precisar e não querer acreditar. Somos amigos coloridos, podemos nos divertir juntos sempre que quisermos, eu dizia. Posso viver com isso eu acho, ele respondia. Expulsei ele, porque o ex traria meu filho daqui a alguns minutos. Já eram sete da manhã. Eu volto. Me liga. E voltou mesmo. As onze estava de volta na minha casa. O filho na escola e eu matando o trabalho. Ficamos na cama até as três. Perdi as contas. Nunca vi nada parecido. Nem sabia que existia. O homem é movido a pilha, pensei. Me virou do avesso e desvirou e virou de novo. Namora comigo. Eu ria. Cala a boca.
Tomou um banho, deixou o chão molhado. Mijou de porta aberta e não abaixou a tampa. Um homem, que delicia. Melhor ainda é voltar pra casa depois de um dia de trabalho jantar sozinha, brincar com o filho e dormir sozinha, de pijama feio. Consegui malvinas.
Descobri que sexo é…
Sexo.