segunda-feira, outubro 22, 2007

O dia em que ele chorou

Ele dorme na minha casa de quinta a domingo. E tem a coisa da escova de dentes. Ele tem se esforçado pra fazer tudo direitinho, eu sei. E chegou um momento em que eu não lembrava mais que a gente não namorava. Se conheço a vó dele, a mãe, almoço com a familia, ele come pizza com meu pai, namoramos, certo? Errado.
Aí o ex, para se vingar, disse "não pego o filho. E você que perca sua baladinha". Chorei no ombro do atual, disse que era uma ex-mulher tão legal e que esse homem infernizava a minha vida. Ele me fez carinho e disse "eu toco, mas volto para dormir com você". Voltou. As dez da manhã, o adesivo da balada colado na sola do tênis. Chegou bêbado, derrubou uma moto na minha garagem. Olhei pra ele, perguntei o que ele pensava chegando aquela hora na minha casa, mas deixei ele dormir um pouco para não sair naquele estado e se matar na primeira esquina. Eu ainda ficaria com a culpa pro resto da vida, disse pra ele. Dorme e vai embora da minha casa. Ele obedeceu. Se jogou de calça jeans na cama e la ficou. Eu sai. Deixei um bilhete verde limão com garranchos nervosos "deixa a chave na portaria. obrigada".
Foi no final da tarde que aconteceu a cena de filme romântico. Eu saí no portão da casa da minha mãe, descalça, pra tomar um ar e quem sabe fumar um cigarro. Ele estava no portão. Estendeu a chave, que eu guardei meio sem saber o que fazer, surpresa pelo momento. Ele me abraçou antes de eu vacilar. encostou a cabeça no meu peito e chorou feito criança. Tremia. A respiração ofegante. Me desculpa. gaguejou. Por favor, me desculpa. Não quero te perder, não posso. Fiquei imóvel. Meus 25 anos passaram pela minha cabeça, procurando um único momento em que alguém tivesse chorado por mim, me pedido desculpas daquele desespero. Não vou mais fazer isso, não quero, não posso te perder. Foi a primeira e última, eu disse. Não sou como suas ex mulheres, não sou adolescente e não tenho tempo a perder. E além disso eu não mereço ser tratada com molecagem. Ele chorou mais, me apertou, disse que não mereço mesmo, e que ele fez a escolha dele que era eu. Que aquele era um dia novo. E me pediu em namoro.
Não respondi. E depois respondi que o namoro teria prazo de experiência, igual emprego novo. Ele riu, enxugou os olhos, e eu entrei no carro dele.

sábado, outubro 13, 2007

Louca

A prova da loucura: a mocinha danca prum lado, e depois pro outro. So comigo. A loucura: to trancada numa sala cheia de gente cochichando em outra lingua. Raramente falam comigo. Raramente sorriem. Tem um so que grita, que deve ser importante poruqe tem sala so pra ele. E qdo ele grita todo mundo da risada. La for a esta sol e ceu azul, mas eh tudo falso – sei que na verdade esta frio e o la for a esta so a me enganar. Na minha cama mora um homem quante que eu so vejo das 2 as 4, ou quando eu decido nao trabalhar. Viver minha vida eh uma conufsao. Acordar de manha eh pesado, eh dificil. Sonho dormir pra sempre. O inverno se aproxima e talvez ja tenha tomado meu coracao. Tenho um pouco de sensacao de coisas mortas, de nunca de volta atras, de ter perdido tudo. Tenho muita sensacao de nao saber o que eu sou, de nao ser o que eu sou. Estou fraca demais, ate pra voltar. Ver o tempo que passou na cara das pessoas me da medo dad or que vai vir. Eu sei que tinha que vir e vim; sei que devo voltar. Mas o que tem no meio, ai, tristeza, eh um inverno enorme, assombroso, e uma mocinha no meu computador que gira e pede: estou girando no sentido horario ou anti-horario? Se eh no horario, vc age com a emocao; se gira no sentido anti-horario, com a razao. E eu desvio o os olhos e quando volto ela gira pra direita, quando volto ela gira pra a esquerda. Socorro, meu Deus.

quinta-feira, outubro 11, 2007

...falta de mim

!

terça-feira, outubro 09, 2007

A menina que eu não beijei

Lá se vão quase dez anos e ainda me lembro dos olhos da menina que eu não beijei. Naquele dia, acordei às três horas da manhã para juntar-me aos peregrinos que iriam assistir ao nascer do sol no alto do Monte Sinai. Estava sozinha, com minha garrafa de água, meu agasalho e meus pensamentos.
Lentamente, entre. grupos de japoneses, dromedários carregando turistas e árabes rápidos de chinelo de dedo, fui subindo aquela montanha que cheirava a história e misticismo. A noite se despedia a cada sopro. Mais alegres que solenes, os caminhantes dividiam memórias e fotografias. Alguns paravam para um chá no singelo barracão fincado no meio da paisagem.
Eu seguia quieta, absorta pelo azul que pouco a pouco substituía o negro no céu, abrindo passagem para as outras matizes. No cume enfim, escolhi minha rocha e sentei-me para esperar o espetáculo. Cada um se acomodava onde podia, juntando-se ao silêncio dos demais.
Do nascer do sol, confesso que me esqueci. Mas não esqueci aquela menina de olhos doces que me ofereceu algumas bolachas. Faminta, acabei comendo o pacote inteiro diante de sua divertida aprovação. Tornamos-nos amigas em cinco minutos. Juntas descemos a montanha, juntas visitamos o monastério ao sopé do Sinai e juntas tomamos o ônibus de volta para a cidade. Juntas, nos apaixonamos. Ela era da Hungria, país que permanece coberto por uma romântica neblina na minha imaginação. Falamos de viagens, sonhos, bolachas, peixes, dinossauros, família... eu já não ouvia o que ela dizia, hipnotizada pelo ritmo da sua voz, pelo movimento do seu corpo, pela maciez das suas mãos. Queria ir embora com ela, nos trancar em um quarto em algum lugar da Hungria e aprender com ela como se ama uma mulher.
Não fiz nada disso... Pior: agi como se não estivesse acontecendo nada e fechei meus olhos para que não pudesse adivinhar o que eles diziam. Quando ela estava deixando a cidade, corri à estação e lhe dei meu e-mail. Ela sorriu e foi embora sem virar a cabeça. Semanas depois recebi um e-mail intitulado “Para a menina que comeu todas as minhas bolachas”. Senti febre ao ler suas palavras e, no afã de responder, confundi as teclas “Reply” e “Delete”. Recém-chegada ao mundo cibernético, na época não sabia que podia voltar atrás na página virtual. E assim, por burrice tecnológica, ou talvez pelo medo de estar diante de algo grandioso demais, a perdi de vez.
Alguns anos depois, passei algumas horas no aeroporto da capital húngara à espera de uma conexão. Ansiosa, olhava para todos os cantos procurando seu rosto. Infelizmente, minha vida não é um filme de Hollywood, portanto ela não apareceu. É doloroso pensar que ela deve achar que eu não quis retornar seu e-mail. Mais doloroso ainda, é que eu nunca mais quis amar outra mulher...

Triste

Triste. E não tem outra palavra. Triste pela minha avó que está partindo. Triste pelo meu avô que não quer deixá-la sozinha nem um minuto. Triste pelos agrados que ele faz na mão dela com cara de amor que já dura mais de sessenta anos. Triste por saber que ela já foi, mas tenta não ir. Triste pra caralho, de uma dor que não se explica, de um amor que não se mede. Triste por eles que estão se separando apesar de não quererem. Triste por ter que trabalhar e não poder ficar ao lado dessa mulher, que é mesmo uma guerreira. Triste porque ela não vai conhecer meus filhos. Triste porque ele não vai me ver entrar na igreja - mesmo tendo abastecido a minha infância com histórias incríveis de noivas. Triste por não poder mais conversar com ela. Feliz por saber que ela construiu essa família linda e grande ao redor dela, mas triste por saber que essa família linda e grande não continuará junta quando eles não estiverem mais aqui. Triste e com medo pelo Natal que se aproxima. Medo de não aguentar ver a dor dele em perder o grande amor da sua vida. Com medo de como ele vai ficar ao vê-la partir. Desesperada de pensar que ele vai embora junto com ela. Triste por perde-los juntos. Triste, triste, triste, pequena e vazia por saber que amor igual a esse é difícil de se ver. Triste por não poder mais vê-los andando de mãos dadas e de não ouvir mais eles se chamando de mem e bem. Triste e vazia. Vazia e fraca. Fraca e com vontade de abandonar o meu amor. Não tenho mais amor. Não quero mais amar. Tenho raiva. Tenho mágoa. Acabou. Triste.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Onde andará Nicanor?

Onde andará Nicanor?
Tinha mãos de jardineiro
Quando tratava de amor

...

Onde andará Nicanor?
Tinha amor pro porto inteiro
Um peito de remador

...

Onde andará Nicanor?
Tinha nó de marinheiro
Quando amarrava um amor

quinta-feira, outubro 04, 2007

Traição, respeito e tesão contido

O reencontro com os olhos verdes, o ex-namorado, o outro que conheci num evento, o cara que se declarou pra mim e, é claro, o bonitão... Nunca houveram tantas possibilidades de trepadas boas! Eu esquento, eu provoco, eu aceito as declarações, mas como diz o meu bonitão: eu só boto pressão! E por algum motivo (provavelmente pelo maior respeito do mundo), eu não efetivo a traição... Ou será que todos os desejos sentidos e as provocações já não são traições?

segunda-feira, outubro 01, 2007

A madrugada...

Olhei a escova de dentes dele no meu banheiro.
-Você vai ser mau comigo também?
-Ahn? Mau? Por que eu seria mau com você?
-Não sei. É que eu gosto de você sabe, e aí dá um medo. Promete?

Raciocinio lógico

E o meu filho descobriu que as pessoas têm cores.
- Você é marrom?
Pergunta a um amigo meu.
- sim, você também, mas é marrom claro.
Ele pensa, olha minhas tatuagens e responde:
- A minha mãe é colorida.